São Paulo – Com o agravamento contínuo da pandemia de covid-19 na cidade de São Paulo, como alertado desde novembro, o governo de João Doria (PSDB) determinou que, a partir de 1º de fevereiro, os hospitais estaduais do Grajaú e de Pedreira, na zona sul, e os de Vila Alpina e do Itaim Paulista, na zona leste, passarão a ser “portas fechadas”, isto é, com atendimento exclusivo de pacientes com coronavírus. Com isso, a população que precisar de atendimento terá de recorrer apenas a UBS, UPA, AMA ou prontos socorros e aguardar transferência pela central de regulação em casos graves. Por sua vez, a prefeitura de São Paulo teme um caos no sistema de saúde de baixa complexidade, que não tem estrutura para atender esses pacientes.
O secretário-executivo de Assistência Hospital da Secretaria Municipal de Saúde da capital paulista, Luiz Carlos Zamarco, discorda da medida do governo Doria em meio à pandemia de covid-19. E diz que as unidades municipais não têm condições de absorver cerca de 40 mil atendimentos mensais realizados por esses hospitais.
“Cada unidade nossa atende de 15 mil a 18 mil pacientes por mês. Absorver mais 40 mil pacientes vai ser quase impossível. A gente não tem espaço físico para receber essas pessoas enquanto elas esperam atendimento”, argumentou hoje (21), em entrevista ao telejornal SPTV, da Rede Globo.
Decisão de risco
Na prática, pessoas que moram na região de abrangência desses hospitais e necessitarem de atendimento complexo, como casos de acidentes, infarto, acidente vascular cerebral (AVC), entre outros, deverão, em vez de ir ao hospital, procurar outras unidades de atendimento e aguardar a transferência a ser processada pela Central de Regulação de Ofertas de Serviços de Saúde (Cross) do governo estadual.
Para o médico sanitarista e ex-ministro da Saúde, Artur Chioro, a medida do governo Doria para lidar com o agravamento da pandemia de covid-19 é tardia e pode levar realmente a um caos generalizado se não for bem articulada com os municípios.
“Se essa redefinição foi pactuada com a prefeitura e a população devidamente esclarecida, pode ser uma medida importante. Caso contrário, é mais uma decisão que desorganiza, que cria dificuldades de acesso, obstáculos. Estamos com quase onze meses de vigência da pandemia e já não é mais possível colocar em segundo plano um atendimento para as pessoas que não têm covid-19 e que estão tendo suas condições clínicas, caso de câncer, hipertensão, diabetes, infarto, AVC, agravados pelas dificuldades de atendimento”, disse.
Com a decisão divulgada hoje, o governo Doria busca responder à dificuldade em reabrir hospitais de campanha e de abrir novos leitos de unidade de terapia intensiva devido à falta de profissionais para trabalhar nesses locais, como já admitiu o secretário Estadual da Saúde, Jean Gorinchteyn. Em 11 de dezembro, já com claro agravamento da pandemia de covid-19 e pouca disposição para ampliar a quarentena, Doria anunciou que seriam abertos mais 2 mil leitos de UTI para garantir atendimento à população. Mas, na última segunda-feira, Gorinchteyn disse que foram abertos 250 leitos apenas.
Situação preocupa
Hoje, o estado de São Paulo está com 70,8% das UTI para pacientes de covid-19 ocupadas. Na Grande São Paulo são 71,5%. Até ontem, havia 13.817 pessoas internadas, sendo 7.764 em enfermaria e 6.053 em UTI, com média diária de 1.727 novas internações. A média de novos casos está 11.645 por dia, a mais alta desde o início da pandemia. A média de mortes diárias está em 236, a mais alta desde 20 de agosto.
Amanhã (22), o governo Doria deve passar várias regiões de São Paulo para fases mais restritas da quarentena. Desde o dia 8 de janeiro, quando foi feita a mais recente classificação das regiões, a ocupação de UTI disparou no estado. Onze regiões já têm situação de fase laranja e três de fase vermelha
Fonte: RBA