São Paulo – Movimentos sociais e organizações não-governamentais (ONGs) enfrentam dificuldades para continuar o trabalho de solidariedade e apoio às milhares de famílias em situação de vulnerabilidade na pandemia. É o que mostra reportagem de Larissa Bohrer, da Rádio Brasil Atual. Principais responsáveis pela distribuição de marmitas e cestas básicas para quem mais precisava, no ano passado, as entidades têm atendido um número menor de pessoas. As doações são cada vez mais escassas e a fome passa a ser um problema cada vez maior. 

Este é o caso, por exemplo, do Movimento Estadual da População em Situação de Rua de São Paulo. Desde o ano passado, a organização entregava diariamente 2,2 mil refeições gratuitas para os sem-teto da região do centro da capital paulista. Mas, devido ao aumento de número de pessoas na extrema pobreza, desde fevereiro o grupo já não tem condições de manter a distribuição no mesmo patamar. Nesta semana, por exemplo, 150 marmitas foram entregues. Ontem, quinta-feira (25), de acordo com o presidente do movimento, Robson Mendonça, apenas 60 puderam ser distribuídas à fila de pessoas que aguardam em frente à quadra do Sindicato dos Bancários.

“A prefeitura não está mais cedendo marmitas para nós. Ela diz que vai esperar fazer renovação de contrato com alguns restaurantes para poder aumentar e talvez voltar a ceder alimentação aqui para nós. Enquanto isso, estamos com esse problema. Temos muitas pessoas na rua. A fome na pandemia aumentou muito, e estamos sem condições no momento de atender a todos”, lamenta Mendonça.

Favelas, fome e pandemia

A União de Movimentos por Moradia (UMM) diz que as doações de cestas básicas, que eram realizadas para mais de cem famílias mensalmente, passam pelo mesmo problema. Além das escassas doações de pessoas físicas, a prefeitura também encerrou a ajuda. Com o intuito de mostrar que o drama da fome vem aumentado no Brasil, o G10 Favelas, – grupo que engloba líderes das dez maiores comunidades brasileiras – realiza, nesta sexta (26), um ato pacífico na avenida Giovanni Gronchi, zona sul,  intitulado “Panelas Vazias”.

O protesto será marcado pela presença de mil mulheres que, com os devidos cuidados sanitários, querem chamar a atenção do poder público para a fome no país e impulsionar uma campanha de arrecadação de alimentos.

“Esse novo normal está representando menos comida no prato”, adverte o presidente do G10 Favelas e líder comunitário de Paraisópolis, Gilson Rodrigues, sobre a fome na pandemia. “Milhões de brasileiros desempregados e falta de políticas públicas que possam salvar estas pessoas. Com o fim das parcelas de R$ 600 e a diminuição do auxílio que está por vir, a situação tende a se agravar. O Brasil poderá chegar a uma situação de casos, porque os preços dos produtos estão cada vez mais elevados”, completa. 

Como doar

O jornalista Glauco Faria, do Jornal Brasil Atual, também conversou com o integrante da Rede de Apoio às Famílias das Vítimas do Covid, Paulo Pedrini. Ele analisa que a queda nas doações é “reflexo do empobrecimento das pessoas”. “Mesmo as que querem ajudar não estão tendo condições. É assustador o que estamos vivendo”, afirma. Pedrini critica o fato de o terceiro mês do ano terminar sem nenhum auxílio por parte do governo federal, que projeta para abril o pagamento de parcelas de R$ 150 a R$ 375

Ele conta que há famílias que perderam seus entes queridos para a doença do novo coronavírus e que sequer têm condições de arcar com as despesas funerárias. Muitas delas formadas por trabalhadores informais que precisam se deslocar para continuar trabalhando para obter alguma renda, ainda que fiquem expostas ao vírus. Tragédia que, como destaca, não encontrou proteção do Estado. “A gente sabe que não existe lockdown de fato sem garantir amparo e renda mínima para as pessoas. É genocídio da mesma forma (não propor essas medidas), porque as pessoas vão precisar sair para garantir a sobrevivência”, diz Pedrini. 

O G10 Favelas arrecada, por meio de seu site, doações que podem ser feitas clicando aqui. A União dos Movimentos de Moradia de São Paulo também faz uma campanha de arrecadação de recursos no site da Benfeitoria. Doações de alimentos ou em dinheiro também podem ser levadas na Quadra dos Bancários, no centro de São Paulo, para apoiar o Movimento Estadual da População de Rua. O grupo também recolhe recursos que podem ser depositados em nome de Robson Cesar C. Mendonça, na Caixa Econômica Federal, agência 0249, operação 013 e conta corrente 00014969-8. 

Fonte: RBA