O tripé Pesquisa, Ensino e Extensão, que baseia as ações da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), passa por diversos assuntos da sociedade, entre eles a diversidade LGBTQI+, tema de discussões no mês de Maio.
Com mais de 25 anos dedicado à pesquisa de gênero, a professora doutora Léia Teixeira Lacerda, afirma a importância das pesquisas desenvolvidas com jovens estudantes sobre o tema. “As relações sociais divulgam os debates que os jovens vivenciaram nas instituições escolares e também promovem o respeito à diferença e sobretudo ao Outro”, explica a professora Léia Teixeira.
Docente do Curso de Pedagogia e do Programa de Mestrado Profissional em Educação, da UEMS, líder do Grupo Educação, Cultura e Diversidade – UEMS/CNPq e atualmente Coordenadora do Centro de Pesquisa, Ensino e Extensão em Educação, Linguagem, Memória e Identidade – CELMI-UEMS, sediado na da Unidade Universitária de Campo Grande, a professora Léia Teixeira conta que a inserção dos conteúdos de gênero nos Cursos de Pedagogia e demais licenciaturas foi regulamentada por meio da Resolução CNE/CPnº 1, de 15 de maio de 2006, que instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Pedagogia e também instituiu a carga horária destinada aos estudos dos temas transversais. “O art. 5º dessa Resolução reitera que o(a) egresso(a) do Curso de Pedagogia deverá estar apto(a) a debater esse tema e pelas pesquisas que têm desenvolvido constatou que os professores possuem muitas dificuldades para abordar esses temas em sala de aula, tanto no que se refere às questões conceituais como também nas relações de alteridade estabelecidas entre professores(as) e estudantes, ao fazer o exercício de se colocar no lugar do seu Outro, diante das suas identidades de gênero”, enfatiza a professora.
As diversas pesquisas realizadas na UEMS, sobre o tema LGBTQI+, resultaram em livros, e-books e ações que levaram a discussão muito além da academia. Em 2017, o e-book Diálogos com os idosos sobre relações de gênero e sexualidades, contou histórias de pais, avós e idosos de asilos de Campo Grande e sua relação e experiências com os temas sexualidade e gênero. “Os textos são trabalhos de conclusão da disciplina Relações de Gênero e Sexualidade. Como as entrevistas foram muito interessantes com marcas muito fortes, resolvemos compilar em um livro”, conta a Acadêmica Mircéia Vareiro, uma das organizadoras do e-book.
O e-book traz resultados das pesquisas desenvolvidas pelos discentes no projeto de ensino: Registro de Memórias dos Idosos sobre sexualidade, relações de gênero e a geração LGBT, vinculado ao Projeto: A Trajetória de Formação no Curso de Pedagogia da Unidade Universitária de Campo Grande, desenvolvido na Unidade de Estudo: Gênero e Educação, financiado pela Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul/Fundect. A organização é uma parceria entre a professora Léia Teixeira, a professora doutora Kátia Cristina Nascimento Figueira e a egressa do Curso de Pedagogia Mircéia Terezinha Suffiatti Mesnerovicz Vareiro.
Em 2019 a discussão sobre gênero ganhou um aspecto a mais quando relacionado com a identidade étnico-racial. Através de uma parceria com as professoras Bartolina Ramalho Catanante e Cristiane Pereira Lima, a professora Léia Teixeira organizou do e-book Diálogos sobre identidade étnico-racial, gênero e sexualidade: caminhos para a transformação, com os resultados das pesquisas desenvolvidas pelos discentes do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu Mestrado Profissional em Educação (PROFEDUC).
A compilação de pesquisas relacionadas à identidade de gênero também gerou um inventário de Projetos de Atuação, elaborados pelos participantes do Curso “Democracia, Gênero, Sexualidade e Diferenças”, ofertado como projeto de extensão pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). O perfil das/os autoras/es desses projetos é diversificado, há cursistas com formação no Ensino Médio completo e graduandos de diferentes cursos de instituições de ensino superior de Campo Grande. “Nesse inventário, há profissionais de diferentes áreas. Esse aspecto extrapola a abrangência social da oferta de um curso de extensão como esse, pois essa instituição de ensino amplia a sua função social, atende a sua comunidade acadêmica, bem como envolve a comunidade externa”, comenta a professora Léia Teixeira.
Interior
O tema LGBTQI+ faz parte de diversas pesquisas na UEMS não só em Campo Grande, mas em cidades do interior de MS. Segundo a professora Léia Teixeira, uma das primeiras pesquisas desenvolvidas no Mestrado em Educação, da Unidade da UEMS de Paranaíba, foi Educação, Memória e Sexualidade: Narrativas dos Professores e Profissionais de Saúde sobre a Educação Sexual e a Formação Docente, de autoria da Eliane Maria da Silva. Neste trabalho, Eliane buscou escrever o percurso de vida e formação dos profissionais de saúde e dos professores que atuaram como educadores sexuais no Projeto Saúde e Prevenção nas Escolas, desenvolvido em 25 (vinte e cinco) municípios sul-mato-grossenses e em 23 (vinte e três) escolas públicas de Campo Grande, MS.
Em suas análises, Eliane Maria da Silva afirma que promover novas discussões sobre a educação sexual dentro e fora do ambiente escolar é necessário não somente para justificar as reflexões constatadas em sua investigação, mas esclarecer dúvidas e questionamentos que as crianças e os adultos possuem sobre essa temática.
Ainda em Paranaíba, a pesquisadora Joana D’arc Moreira Alves, desenvolveu a pesquisa Relação de gênero e sexualidade: narrativas de professoras e de crianças de uma escola pública de tempo integral, buscando compreender como ocorre a constituição das relações de gênero e de sexualidade para as crianças, matriculadas no 3º ano do Ensino Fundamental, que estudam em uma Escola de Tempo Integral.
Com objetivo de promover uma reflexão entre as professoras, Joana D’arc Moreira Alves verificou que os resultados revelaram a dificuldade das professoras para abordarem os temas de gênero e sexualidade em sala de aula; a superficialidade que esses assuntos são abordados; o despreparo desses profissionais no que diz respeito aos conteúdos, tanto na sua vida privada, sexual e afetiva; quanto à ausência desses conteúdos na matriz curricular; além da falta de oferta de Cursos de Formação Continuada sobre essa temática nas Escolas Integrais. “Os resultados dessa investigação também indicaram caminhos alternativos para a abordagem de gênero e sexualidade, por meio das práticas pedagógicas, com a finalidade de valorizar as narrativas das crianças como protagonistas da educação sexual, considerando a idade, o imaginário infantil e seus interesses sobre as relações de gênero e as vivências da sexualidade no ambiente escolar”, explica Joana D’arc Moreira Alves.
Nas escolas
A abordagem do tema sexualidade e gênero nas escolas causa muita discussão no Brasil, com opiniões diversas que misturam fakenews, aspectos religiosos, entre outros, causando embates e dividindo opiniões. Usando a ciência como caminho, a UEMS vai à escola para entender os diferentes aspectos sobre os temas sexualidade, gênero e LGBTQI+, através de pesquisas como a de Roberta de Souza Salgado. Em 2018, ela desenvolveu a pesquisa Relações de gênero e sexualidade: vozes de professores/as do 9º ano do Ensino Fundamental, Campo Grande, MS, no Mestrado Profissional em Educação, da UEMS.
Neste trabalho, Roberta elegeu as vozes de professores/as para abordar as relações de gênero e sexualidade, tendo em vista que considera a instituição escolar um dos espaços sociais que oportuniza a construção de relações de respeito à diversidade e à diferença diante de um contexto brasileiro de desigualdades de gênero e discriminação no que se refere à orientação sexual, bem como a presença das demais formas de violência física e simbólica. “Foi possível constatar que, além de apresentar dados que evidenciam as desigualdades entre os gêneros, o questionamento a que se propôs investigar favoreceu a compreensão dos indicadores dessas desigualdades, bem como a possibilidade de questionar o sistema patriarcal, que pode oprimir pessoas, sobretudo as mulheres, no passado e no presente da história do Brasil”, revela Roberta.
Outra pesquisa deste inventário foi desenvolvida por Roselaine Dias da Silva, com o título Vozes de estudantes do Ensino Médio sobre a LGBTfobia em uma escola estadual em Campo Grande, MS. A autora buscou conceituar e analisar o fenômeno da LGBTfobia, a partir das experiências de violência vivenciadas por jovens lésbicas, gays, bissexuais e pansexuais no espaço escolar, por meio da produção de dados empíricos com atividades de sensibilização para a reflexão sobre a temática pesquisada; e também, entrevistas individuais com roteiro pré-estabelecido. “Essa pesquisa possibilitou descortinar as experiências, as discriminações e preconceitos vividos por estudantes LGBT e por uma jovem pansexual”, comenta Roselaine Dias.
Segundo a professora Léia Teixeira, a identidade de gênero se refere à experiência de uma pessoa com o seu próprio gênero. Indivíduos trans possuem uma identidade de gênero que é diferente do sexo que lhes foi designado no momento de seu nascimento. “A identidade de gênero é diferente de orientação sexual — pessoas trans podem ter qualquer orientação sexual, incluindo heterossexual, homossexual, bissexual e assexual”, explica Léia.
A preocupação com as vozes dos também constituíram no trabalho de pesquisa Vozes de Estudantes e Docentes sobre Sexualidades e Homofobia na Escola: construção de um espaço de reflexão sobre sexualidades não heteronortmativas, do pesquisador Flávio Luiz Pezzi Gouveia. Ele destacou que a abordagem na escola de temas ligados a gênero e sexualidades, diferente daquelas que são tomadas como convencionalmente normativas, pode gerar polêmicas e desencadear reações de inquietação em determinados segmentos da sociedade. “Em função da discriminação e de práticas homofóbicas que se reproduzem no interior da sociedade brasileira, essa temática tem chamado atenção crescente de educadores, movimentos sociais e pais no mundo contemporâneo, necessitando ser bem trabalhada no contexto escolar para que possamos avançar nessa pauta e constituirmos relações mais respeitosas e dignas”, explica Flávio Luiz, que ainda destaca que é “possível entendermos parte do que dificulta e também favorece os estudos de gênero encontrando estratégias para compreender os conflitos decorrentes da intolerância enfrentada por estudantes homossexuais, possibilitando uma intervenção/mediada mais efetiva e a criação de programas de combate e prevenção aos diversos tipos de violência e assédio dirigidos aos estudantes e aos demais indivíduos com orientação sexual diferente da heteronormatividade, podendo, assim, potencializarem-se mudanças nesse cenário”.
Lançamentos
Para este mês de maio, serão lançadas duas novas obras, a primeira Vivências e práticas pedagógicas sobre as relações de gênero: Anos iniciais do ensino fundamental de autoria da professora Cristiane Pereira Lima e coautoria da professora Léia Teixeira Lacerda, publicado pela Editora Brazil Publishing.
O livro apresenta os resultados de uma pesquisa elaborada no Programa de Mestrado Profissional em Educação (PROFEDUC), da UEMS, em relação às práticas pedagógicas sobre as relações de gênero desenvolvidas com crianças de uma escola pública de Campo Grande. Sua elaboração surgiu da necessidade em produzir recursos pedagógicos que estimulem professoras/es e estudantes a debaterem as relações de gênero no Ensino Fundamental, com a finalidade de favorecer a adoção de posturas vivenciadas nas relações interpessoais com ênfase no respeito mútuo e na aceitação de si e do outro. “As contribuições se constituem em uma tentativa de desmistificar as representações relacionadas ao que é ser menino e menina, permitindo outras maneiras de ser e estar no mundo, respeitando e valorizando as diferenças”, explica a professora Léia Teixeira.
O lançamento será do livro será no Colóquio da Linha de Pesquisa: Formação de Professores e Diversidade do Programa de Mestrado Profissional em Educação da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul: “Por uma Educação que Promova a Igualdade de Gênero na Escola”, que terá participação da professora doutora Jimena Furlani (UDESC), autora do prefácio da obra. O colóquio será no dia 25 de maio de 2021, das 19h às 20h30, transmitido pelo Canal do Programa no youtube (https://www.youtube.com/watch?v=kv9WNT9QBQE). O livro está disponível no site: https://bit.ly/3w3Uq2Y.
Outro livro que lançaremos neste mês de maio é Memória discursiva sobre a violência de gênero na voz de mulheres com deficiência, de autoria de autoria da professora Flávia Pieretti Cardoso e coautoria da professora Maria Leda Pinto e professora Léia Teixeira Lacerda, publicado pela Editora Brazil Publishing.
Neste livro, já apresentado aqui no portal da UEMS (https://bit.ly/3uJ0sWw) os autores fazem um convite para conhecer as “vozes” de mulheres com deficiência, por meio de suas narrativas de vida, que expressam seus sentimentos, dão sentido às suas “memórias” sobre episódios vivenciados de violência de gênero, tendo em vista que estão em dupla desvantagem: são silenciadas por serem mulheres e por terem algum tipo de deficiência.
O lançamento do livro Memória discursiva sobre a violência de gênero na voz de mulheres com deficiência será no Colóquio da Linha de Pesquisa: Língua, Discurso e Sociedade – Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu, Mestrado em Letras: “Violência contra mulheres: por onde passam os direitos”, que terá a participação da professora Cláudia Araújo de Lima (PPGE/CPAN/UFMS), que será realizado no 31 de maio de 2021, das 19h às 20h30 e também transmitido pelo Canal do Programa no youtube (https://www.youtube.com/watch?v=kv9WNT9QBQE). O livro está disponível no site: https://bit.ly/3w5pz6q.
Maio da Diversidade LGBTQI+
O “Maio da Diversidade LGBTQI+, promovido pelo Governo do Estado de Mato Grosso do Sul, por meio da Subsecretaria de Políticas Públicas LGBT, em parceria com as instituições governamentais e não governamentais é uma campanha celebra os 10 anos Lei nº 4.031, de 26 de maio de 2011, que instituiu o dia 17 de Maio, como o Dia Estadual de Combate à Homofobia em Mato Grosso do Sul, e os 31 anos, que a Assembleia Geral da Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou que “a homossexualidade não se constitui doença, nem distúrbio”, retirando desta forma, a homossexualidade da Classificação Internacional de Doenças. Essa campanha estrutura-se como um espaço de debate e de resistência, pois estabelece uma agenda de eventos destinada às reflexões dos retrocessos das políticas públicas, dos avanços, da luta pela preservação, a qualidade de vida e de identidades das pessoas LGBTQI+. “As diversas pesquisas que realizamos no âmbito da academia são debatidas com pessoas e pesquisadores/as LGBTQI, isso alcança a sociedade como um todo, no entanto o preconceito e a discriminação ainda precisa ser cotidianamente desconstruídos, por isso as ações como o Maio da Diversidade LGBTQI+ são tão importantes”, finaliza a professora Léia Teixeira.
Comunicação UEMS