Reprodução

São Paulo – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou a atenção dada por Jair Bolsonaro às manifestações em Cuba e cobrou do presidente da República posicionamento quanto à crise sanitária e econômica que assola o Brasil. Em entrevista à rádio Bandeirantes nesta terça-feira (13), Lula ressaltou que, no país com mais de 530 mil mortos pela covid-19, há 14,8 milhões de brasileiros desempregados, outros 33 milhões de subutilizados e 6 milhões de pessoas que desistiram de procurar emprego

O ex-presidente mencionou ainda a crise hídrica que ameaça os reservatórios de cinco das maiores hidrelétricas do país, enquanto o presidente brasileiro comemora os atos cubanos, estimulados inclusive por quedas de energia na ilha em decorrência do embargo econômico. “Ontem, vi o presidente Bolsonaro falando que está faltando energia em Cuba e ele não fala da crise hídrica no Brasil. (Ele não fala) que o país só não apagou por conta das obras que fizemos de hidrelétricas, de linha de transmissão e termelétrica”, observou. 

Diante do risco de um novo apagão e da alta nos preços dos combustíveis, Lula também fez ressalvas quanto à lei sancionada nesta terça por Bolsonaro, que abre caminho para a privatização da Eletrobras. O ex-presidente apontou o projeto como um “crime de lesa-pátria contra o país”.

Crise em Cuba e o bloqueio

“O problema do Brasil é que nós não temos governo. Temos um presidente da República que só fala bobagem o dia inteiro”, ironizou Lula aos jornalistas.” O Brasil é governado pelo ministro da Fazenda e pelo presidente da Câmara, que por sua vez não têm projeto para o Brasil a não ser vender. Quando acabar de vender tudo, a gente vai gastar o dinheiro da venda no custeio e depois não vai ter nem obra de infraestrutura, nem nada.” 

Lula, contudo, não descartou que há razões para os protestos em Cuba, motivados, conforme pontua, pelo bloqueio econômico que perdura há seis décadas no país. Promovidas unilateralmente pelos Estados Unidos e condenadas em junho pela 29ª vez na Assembleia Geral das Nações Unidas, as sanções se mantiveram inclusive durante o período de pandemia. “Uma coisa desumana”, nas palavras do ex-presidente. 

“Se Cuba não tivesse bloqueio poderia ser uma Holanda, Noruega, uma Dinamarca, porque tem um povo altamente formado e intelectualmente muito bem preparado. O que precisa é dar oportunidade. Cuba não conseguiu sequer comprar respiradores porque os americanos não permitiram que chegasse lá, isso que é desumano e que deveríamos estar criticando. O bloqueio é uma forma covarde de matar quem não está em guerra, punir quem não gosta. Vamos deixar os cubanos serem quem quiserem, são 60 anos de bloqueio, do que os Estados Unidos têm medo?”, questionou Lula.

Frustração com Biden

O petista se disse ainda “frustrado” com a postura do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. “(Donald) Trump tomou 240 medidas punitivas contra Cuba e o Biden não mudou nenhuma. Não é possível que o governo dos Estados Unidos guarde tanto ódio no coração porque Cuba venceu a revolução.” 

Questionado sobre os gritos de “liberdade”, as faixas de “abaixo a ditadura” e a queda no sinal de internet no país caribenho, Lula pontuou que os atos “existem pela possibilidade de haver manifestação”. “Você não viu nenhum soldado ajoelhando no pescoço de um negro”, comentou, em referência ao assassinato de George Floyd, que deram início aos protestos mundiais contra o racismo. 

Lula e a candidatura 

Em primeiro lugar nas pesquisas eleitorais, Lula também falou sobre a possiblidade de se candidatar em 2022. O petista não confirmou se estará na disputa, mas disse que debate sua participação nas eleições presidenciais do ano que vem.

O ex-presidente também fez críticas à coluna da colunista Eliane Cantanhêde, do jornal O Estado de S. Paulo. Na publicação de domingo (11), ela sugeriu que Lula abrisse mão de um lugar na cabeça de chapa em 2022. Para ela, o ex-presidente deveria dar “um golpe de mestre” e assumir a “vaga de vice numa chapa de união e pacificação nacional”.

“Toda essa gente achava que o Lula tinha sido extirpado da política brasileira”, rebateu o ex-presidente. De acordo com ele, a possiblidade de fazer uma ampla aliança em 2022 dependerá de afinidade política. “Se eu decidir ser candidato , tenho que procurar alguém que tenha, primeiro, afinidade política comigo, não posso chamar um antagônico. Tenho que ter alguém que pensa economicamente muito parecido, que tenha uma visão social parecida com a minha e que conheça como vive o povo pobre desse país”, concluiu Lula. 

Fonte: RBA