Nelson Jr./SCO/STF - Alan Santos/PR

Tribunal vai apurar abusos do presidente em sua cruzada contra a democracia. Investigação pode resultar em inelegibilidade

O plenário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu por unanimidade, na noite desta segunda-feira (2), abrir duas medidas contra o presidente Jair Bolsonaro, em resposta à escalada do presidente contra o sistema eletrônico de votação. Primeiro, os ministros vão abrir um inquérito administrativo por conta das sucessivas acusações de fraude no sistema eleitoral e das ameaças à realização das eleições de 2022. Além disso, o presidente será incluído no chamado “inquérito das fake news” que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) sob a relatoria do ministro Alexandre de Moraes. Trata-se da mais contundente ação contra Bolsonaro desde que ele começou a ameaçar as eleições de 2022 e colocar em dúvida o sistema eleitoral brasileiro e a urna eletrônica.

Abusos e mentiras

O inquérito administrativo vai apurar se, para espalhar seus ataques sem provas contra a Justiça Eleitoral e o sistema eletrônico de votações, Bolsonaro praticou “abuso do poder econômico e político, uso indevido dos meios de comunicação, corrupção, fraude, condutas vedadas a agentes públicos e propaganda extemporânea”. Segundo técnicos do TSE, o inquérito pode acarretar em impugnação de registo da candidatura de Bolsonaro ou inelegibilidade do presidente.

Em live nas redes sociais transmitida na última quinta-feira de julho (29), Bolsonaro usou uma série de vídeos antigos e informações falsas contra as urnas eletrônicas para alegar que o sistema é fraudável. Durante a transmissão, o presidente admitiu não ter provas das fraudes. Mas, por mais de duas horas, mentiu e voltou a usar informações falsas e descontextualizadas contra a Justiça Eleitoral.

Horas antes da decisão pelas medidas contra Bolsonaro tomada hoje, o presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso respondeu aos recentes ataques do presidente. “A ameaça à realização de eleições é conduta antidemocrática. Suprimir direitos fundamentais, incluindo os de natureza ambiental é conduta antidemocrática. Conspurcar o debate público com desinformação, mentiras, ódios e teorias conspiratórias é conduta antidemocrática”, afirmou, em discurso pela reabertura do TSE, após o recesso eleitoral. O magistrado reafirmou que o voto impresso defendido por Bolsonaro facilitará a ocorrência de fraudes, e não o contrário, como o presidente costuma afirmar.

O líder da Oposição na Câmara, deputado Alessandro Molon (PSB-RJ), comentou sobre decisão do TSE de investigar ataques ao sistema eleitoral brasileiro. “O TSE acerta ao decidir investigar os ataques de Bolsonaro às urnas, à eleição e, portanto, à democracia. Bolsonaro já foi longe demais. Basta de impunidade. Agora vai ter que responder por seus atos e palavras.”

Fonte: RBA