A imunidade de rebanho sempre foi tratada com receio pelos especialistas devido justamente as mutações que o vírus da Covid-19 sofre ao longo do tempo e aguardar o período necessário para atingir essa proteção poderia aumentar ainda mais o número de mortes. Agora, a variante Delta, mais contagiosa que a versão original, parece ter tornado essa imunidade de rebanho praticamente impossível.
No inicio da pandemia, era estimado que a imunidade de rebanho seria atingida quando 70% da população estivesse protegida. Como estamos vendo agora, com versões mais contagiosas da doença, essa porcentagem não parece ser suficiente para impedir um aumento no número de casos. “Essa sempre foi uma aproximação, presumindo muitas coisas e ignorando outras mais”, explica Samir Bhatt, professor da escola de saúde pública do Imperial College de Londres.
Segundo o especialista, com os dados que temos hoje, ainda não é possível determinar a porcentagem de imunizados para evitar o vírus. No entanto, levando em conta que em locais com a população adulta quase totalmente imunizada ainda há registros de casos, esse número pode ser próximo do 100%. “Cada vez que esse número aumenta, sobe também a porcentagem calculada para imunidade de rebanho”, completa o pesquisador.
Imunidade de rebanho
Outro ponto é que, apesar das mortes se concentrarem nos grupos de pessoas ainda não vacinadas, como foi marcado nos Estados Unidos, imunizados ainda podem transmitir o vírus para essas pessoas, principalmente as novas cepas. Isso fez com que o uso de máscara voltasse a ser recomendado em várias partes dos EUA. “Isso significa que o vírus pode circular em uma comunidade com um grande número de pessoas vacinadas. Com essa noção, temos que concluir que a imunidade de rebanho não é mais possível”, explica o o virologista Jeroen van der Hilst, professor de imunopatologia da Universidade de Hasselt.https://s.dynad.net/stack/928W5r5IndTfocT3VdUV-AB8UVlc0JbnGWyFZsei5gU.html
Segundo Kevin McConway, professor de estatística aplicada da Open University, no Reino Unido, com os dados que temos hoje, sem ter certeza sobre o tempo de duração das vacinas e nem da proteção fornecida em quem já teve o vírus, fica inviável calcular a taxa necessária pra imunidade de rebanho. “Muitos cálculos são indiretos: estima-se a eficácia contra infecção assintomática, por exemplo, e, em seguida, fazem-se suposições sobre a probabilidade de um assintomático transmitir o vírus a outra pessoa. Há várias fontes diferentes de incerteza aqui, então as estimativas não são muito boas”, explica.
“Imagine que atingimos a imunidade coletiva, mas a defesa das pessoas desaparece completamente dois anos depois. Como a imunidade de rebanho significa apenas que qualquer surto será pequeno e será contido rapidamente, ainda haverá alguma infecção depois desses dois anos. Se a defesa das pessoas diminui, eles se tornam suscetíveis novamente e os surtos podem se espalhar novamente e se tornar perigosos”, completou ainda.
O consenso é que dificilmente a imunidade de rebanho vai ser possível com as novas variantes. Os especialistas explicam que a única forma de controlar a pandemia é com a vacinação e quem não se imunizar não vai estar protegido contra o vírus.
Fonte: Olhar Digital