Ex-presidente do Partido dos Trabalhadores, num momento em que o partido se encontrava sob fortes ataques externos e convulsão interna, ex-prefeito, ex-governador e ex-ministro, o político e intelectual Tarso Genro diz que não comparecerá à festa comemorativa do 40º aniversário do partido por não se identificar com os rumos que a sigla está tomando
247 – “O Partido dos Trabalhadores faz 40 anos na próxima segunda-feira e hoje começa uma grande festa no Rio de Janeiro. Mas eu não pretendo participar. Não me sinto identificado, hoje, com o tipo de visão que o PT construiu de si mesmo”, escreve Tarso Genro.
O ex-dirigente, que mantém sua filiação e cooperação com o partido, considera que o PT fez transformações democráticas muito positivas na sociedade brasileira, em particular durante o governo do presidente Lula. Mas opina, por outro lado, que as “modulações” que fez em sua linha política “bloquearem a sua renovação”.
“Ao longo destes 40 anos ocorreram composições e renúncias que nunca ficaram esclarecidas. Não sei se algumas destas concessões não foram renúncias de princípios. A festa de aniversário é uma boa iniciativa e tenho certeza que nem vão dar grande importância para a minha ausência”, escreve Tarso Genro em depoimento exclusivo ao UOL.
Tarso considera que o PT está obsoleto. “Nós temos um discurso e um programa ancorado na época em que o partido foi fundado e ainda agimos como se existisse uma classe trabalhadora nas fábricas que teria potencial hegemônico na sociedade”.
“Não adianta, por exemplo, o PT prometer se renovar e pregar a restauração da CLT. Os processos de trabalho foram fragmentados e hoje temos autônomos, horistas, PJs, precários, intermitentes… Trata-se, neste caso, de organizar um outro sistema público protetivo que envolva estes excluídos das legislações trabalhistas, que irão aumentar”.
“Acho que o partido não acompanhou estas mudanças”.
Tarso Genro é crítico também em relação ao modo como o PT se relaciona com aliados. “Precisamos determinar nossos compromissos e buscar convergências com outros campos políticos. Avaliarmos as condições das alianças e decidirmos unir (ou não) forças sociais, dependendo de cada situação concreta”.
“Para compor uma frente de esquerda o PT precisa trabalhar com a possibilidade de não indicar o candidato em uma chapa na eleição presidencial. E acho que se o PT não está preparado, tem que se preparar para isto. Eu defendo Lula ou [Fernando] Haddad como candidatos, mas nossa opinião tem que ser avalizada sinceramente por todas as forças convergentes. Não é pelo fato de o PT ter o maior número de votos na esquerda, e ele tem de fato, que deve ter sempre as cabeças de chapas…Não podemos ser hegemônicos pré-datados”.
Fonte: Brasil247