Um estudo publicado nesta terça-feira (12) no periódico científico Astrophysical Journal descreve ondas de rádio incomuns provenientes do centro da Via Láctea. Esses sinais não se enquadram em nenhum padrão atualmente compreendido de fonte de rádio variável e podem sugerir uma nova classe de objeto estelar.

De acordo com o site Phys, a descoberta foi feita por astrônomos da Universidade de Sydney, na Austrália. “A propriedade mais estranha desse novo sinal é que ele tem uma polarização muito alta. Isso significa que sua luz oscila em apenas uma direção, mas essa direção gira com o tempo”, disse Ziteng Wang, principal autor do novo estudo e estudante de PhD da Escola de Física da instituição.

Sinais de rádio emergindo do centro galáctico da Via Láctea. Imagem: MeerKAT / SARAO

Segundo Wang, “o brilho do objeto também varia dramaticamente, por um fator de 100, e o sinal liga e desliga aparentemente ao acaso”. Ele afirma que nunca se viu “nada parecido”.

Muitos tipos de estrelas emitem luz variável em todo o espectro eletromagnético. Com os grandes avanços na radioastronomia, o estudo de objetos variáveis ​​ou transitórios em ondas de rádio é um campo de estudo que possibilita revelar os segredos do Universo.

Pulsares, supernovas, estrelas cintilantes e explosões rápidas de rádio são todos os tipos de objetos astronômicos com brilho variável.

“A princípio pensamos que poderia ser um pulsar – um tipo muito denso de estrela morta girando – ou então um tipo de estrela que emite enormes erupções solares. Mas os sinais desta nova fonte não correspondem ao que esperamos desses tipos de objetos celestes”, disse Wang.

Equipe internacional ajudou a analisar os sinais vindos da Via Láctea

Pesquisadores da agência científica nacional da Austrália (CSIRO), da Alemanha, dos Estados Unidos, do Canadá, da África do Sul, da Espanha e da França ajudaram Wang no estudo, utilizando o radiotelescópio ASKAP da CSIRO e o telescópio MeerKAT, do Observatório Sul-Africano de Radioastronomia.

“Temos pesquisado o céu com ASKAP para encontrar novos objetos incomuns com um projeto conhecido como variáveis ​​e transientes lentos (VASTs), ao longo de 2020 e 2021”, informou a astrofísica Tara Murphy, pesquisadora chefe do Centre of Excellence for All-Sky Astrophysics (CAASTRO) da Universidade de Sydney.

“Olhando em direção ao centro da galáxia, encontramos ASKAP J173608.2-321635, nomeado após suas coordenadas. Esse objeto era o único que começou invisível, tornou-se brilhante, desapareceu e então reapareceu. Esse comportamento foi extraordinário”, disse Murphy.

Depois de detectar seis sinais de rádio da fonte ao longo de nove meses em 2020, os astrônomos tentaram encontrar o objeto na luz visível. Eles não encontraram nada. Então, usaram o radiotelescópio Parkes, do CSIRO e, novamente, não conseguiram detectar a fonte.

“Em seguida, tentamos o radiotelescópio MeerKAT, que é mais sensível!”, revelou Murphy. “Como o sinal era intermitente, nós o observamos por 15 minutos a cada poucas semanas, na esperança de vê-lo novamente”.

Segundo ela, foi então que o sinal retornou. “Mas descobrimos que o comportamento da fonte era dramaticamente diferente – a fonte desapareceu em um único dia, embora tenha durado semanas em nossas observações ASKAP anteriores”.

No entanto, essa nova descoberta não revelou muito mais sobre os segredos dessa fonte de rádio transitória.

Telescópio com previsão de ficar pronto na próxima década poderá elucidar melhor

O professor David Kaplan, da Universidade de Wisconsin-Milwaukee, co-supervisor de Wang, disse: “A informação que temos tem alguns paralelos com outra classe emergente de objetos misteriosos conhecidos como transientes de rádio do centro galáctico, incluindo um apelidado de burper cósmico”.

“Embora nosso novo objeto, ASKAP J173608.2-321635, compartilhe algumas propriedades com GCRTs, também há diferenças. E não entendemos realmente essas fontes, de qualquer maneira, então isso aumenta o mistério”, afirmou Kaplan.

Agora, os cientistas planejam ficar de olho no objeto para procurar mais pistas sobre o que ele pode ser. “Na próxima década, o radiotelescópio transcontinental Square Kilometer Array (SKA) estará online. Ele será capaz de fazer mapas sensíveis do céu todos os dias”, disse Murphy. “Esperamos que o poder desse telescópio nos ajude a resolver mistérios como essa última descoberta, e que também abra novas áreas do cosmos para a exploração do espectro de rádio”.

Fonte: Olhar Digital