Sob pressão dos EUA, Brasil assina acordo para reduzir emissão de metano - (crédito: Arquivo/ Agência Brasil)

Resistente à redução do metano, gás proveniente, em larga medida, da atividade agropecuária, governo brasileiro cede à imposição dos Estados Unidos e concorda em cortar emissões em 30% até 2030. Setor pode ser afetado pela decisão

Após sucessivas negativas do governo federal em assinar um compromisso de diminuir a emissão de gás metano (CH4) na atmosfera, um anúncio do Ministério das Relações Exteriores de que o Brasil aderiu ao acordo pegou de surpresa o mundo e até integrantes do próprio Poder Executivo. O entendimento foi costurado na COP26, conferência climática que ocorre em Glasgow, na Escócia.

“No âmbito das negociações da #COP26, o Brasil co-patrocinará o Compromisso Global sobre Metano. O Brasil é parte da solução para os desafios da mudança do clima. #BrasilNaCOP26”, publicou o Itamaraty em sua conta no Twitter.

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, entre outros órgãos do governo, era contrário ao acordo, porque a maior parte das emissões brasileiras de metano advém da pecuária. Para reduzi-las, seria necessário diminuir o rebanho ou investir pesadamente no melhoramento tecnológico da atividade. O governo, entretanto, cedeu à pressão dos Estados Unidos, principal patrocinador do acordo, que prevê a redução das emissões em 30% até 2030. Até ontem, mais de cem países haviam aderido à proposta.

Segundo o economista William Baghdassarian, professor do Instituto Brasileiro de Mercados de Capitais (Ibmec), o governo cedeu às pressões não por ter se sensibilizado com o problema, mas sim para não se colocar em uma situação de pária ambiental. “Quando você reúne os maiores líderes internacionais assinando esse acordo de clima, o Brasil se torna pária se não assinar”, disse.

Sob pressão dos EUA, Brasil assina acordo para reduzir emissão de metano
Sob pressão dos EUA, Brasil assina acordo para reduzir emissão de metano(foto: Pacífico/CB/D.APress)

Segundo o especialista, a redução de metano pode ser uma oportunidade para o Brasil passar a emitir os chamados “títulos verdes”, o que poderia compensar uma eventual perda em exportações de carne bovina. “Países comprometidos com essa pauta lá fora têm colocado incentivos para que as empresas emitam títulos e bônus, cujos recursos são destinados à causa ambiental, social e de governança. Como o Brasil tem um bioma muito forte e muito grande, poderia emitir muitos títulos de proteção”, explicou.

O metano é um gás proveniente de diversas fontes, sendo que as principais são: erupções vulcânicas, decomposição de matéria orgânica e digestão de alguns animais herbívoros, como o boi. Ele faz parte dos gases que causam o efeito estufa na atmosfera e é 28 vezes mais poluente que o gás carbônico (CO2), segundo cientistas. O Brasil produz 418 milhões de toneladas de metano por ano — sendo 73% oriundo do arroto de bois e manejo de esterco dos animais.

Rebanho

A redução das emissões do gás pode atingir a pecuária, que é um setor importante da economia brasileira. O país tem o maior rebanho bovino do mundo e as exportações de carne constituem importante fonte de receita (veja no quadro). Apesar das evidências científicas, representantes do setor agropecuário do Congresso Nacional sustentam que o setor é sustentável.

O deputado federal Alceu Moreira (MDB-RS) disse que a maior parte da emissão de metano no Brasil vem dos centros urbanos e definiu como “folclórica” a informação de que o arroto dos bois gera gás suficiente para causar danos à atmosfera. “Não há dado científico que estabeleça a teoria”, afirmou. O deputado Neri Geller (PP-MT) vai na mesma linha, ressaltando que o acordo é positivo para o Brasil. “A produção agropecuária no Brasil é altamente sustentável”, garantiu. “Nós precisamos do mercado internacional, a nossa imagem tem que mudar e precisamos de diálogo para sinalizar isso”, acrescentou.

Segundo o ambientalista Nelson Rodrigues, do projeto Guardiões do Meio Ambiente, do Distrito Federal, por mais que grandes fazendeiros consigam avançar tecnologicamente e manter uma produção mais sustentável, os pequenos acabam gerando problemas ao meio ambiente. “Os pequenos fornecedores não tem estrutura e muitos não conseguem impedir as emissões”, explicou.

Fonte: Correio Braziliense