Em Dourados, peritos trabalham constantemente na busca pela verdade dos fatos - Crédito: Divulgação

Foi comemorado em 4 de dezembro, o Dia do Perito Criminal, profissional importante no processo de investigação, elucidação de casos e a busca da verdade. Em Dourados, o perito Paulo Roberto de Albuquerque Filho que atua na área há 7 anos, foi entrevistado pelo site. Confira:

Quais os principais desafios da carreira de um perito criminal?


Paulo- Acredito que o maior desafio de um perito criminal estadual no Brasil seja a falta de investimentos em estrutura (equipamentos e pessoal) e a falta de reconhecimento. Explico, a criminalidade muda seus métodos e modos de agir, procurando obscurecer os crimes cometidos e garantir sua impunidade. 
Dessa forma, é necessário que todos os agentes que atuam na segurança pública mantenham-se alertas e atualizados. Com o Perito Criminal não é diferente, o maior desafio, em minha opinião, é que trabalho exige um grau de conhecimento multidisciplinar diferenciado ao longo da vida do profissional. O que muita gente não sabe é que nós peritos não trabalhamos somente na chamada “cena de crime”, a perícia criminal faz inúmeros tipos de exames periciais, por exemplo: exames em locais de crimes contra a vida (homicídio, acidentes, suicídios, etc), exames em locais de crimes patrimoniais (furto, roubo, danos, incêndios, etc), exames ambientais, exames de engenharia, exames contábeis/financeiros, exames de balística, exames em equipamentos de informática e celulares, exames em objetos e instrumentos diversos, exames em documentos, exames grafotécnicos e de fonética, exames laboratoriais (DNA, análise de drogas lícitas e ilícitas, etc), exames em veículos, exames em  vídeos e imagens, exames de medicina legal, entre outros exames correlacionados aos mais diversos tipos de crimes existentes. Para tanto, é necessário aplicar conhecimentos devárias ciências como física, química, biologia, contabilidade, engenharias, fonética, etc. Sendo imprescindível trabalhar com equipamentos adequados e com tecnologia adequada à evolução do crime.

Na sua opinião quais as principais contribuições e a importância do perito criminal para a sociedade?


PAULO- Quando ocorre um crime é um momento difícil e delicado para algumas pessoas em particular, mas também o é para toda a sociedade, uma vez que o direito penal tenta resguardar os bens mais sensíveis da sociedade.
O ideal seria que os crimes não ocorressem (em um mundo utópico), ou que quando ocorressem causassem os menores prejuízos possíveis. Infelizmente não é assim que acontece.
Mas sinto alegria quando meu trabalho é capaz de trazer respostas às vítimas, ou de devolver-lhes, ao menos em parte, o que lhes foi tirado. Por exemplo, atuei muito tempo em perícias em veículos, e sempre foi gratificante quando descobríamos as adulterações e depois dos exames descobríamos as verdadeiras identificações dos veículos roubados. É gratificante também quando conseguimos através do trabalho esclarecer como os crimes ocorreram e quem os praticou, para que sejam apresentados e respondam perante a justiça. O perito criminal é um olhar imparcial e técnico sobre o crime, quando somos acionados não sabemos quem é a vítima, nem quem é o criminoso, também não existe interesse em condenar ou absolver quem quer que seja, nossa função é tentar desvendar o que e como os eventos aconteceram, com base na análise dos vestígios encontrados, apresentando às autoridades a prova pericial para que elas tomem suas decisões com base na lei. Por exemplo, se você pedir para 20 pessoas assistirem a um filme e depois pedirem para que narrem o que aconteceu, é possível que você tenha vários relatos diferentes. Com a prova testemunhal é assim, cada pessoa relata de acordo com suas subjetividades, o que pode gerar informações totalmente divergentes sobre o mesmo evento. Dessa forma, a função do perito criminal é imprescindível em um estado de direito, para que o processo judicial seja justo, para que as vítimas e a sociedade tenham respostas imparciais e objetivas.

Dourados é uma cidade próxima da fronteira e consequentemente violenta, no decorrer de sua carreira qual crime acompanhou e classifica como o “mais chocante”?


Paulo- Nossa bela região, infelizmente é uma grande porta de entrada para drogas ilícitas, armas e contrabando. Na minha opinião é difícil para um perito elencar um crime como “o mais chocante”, como já dito cada crime afeta as pessoas e a sociedade de forma diferente. 
Então, cada tipo de local examinado tem sua especificidade. Por exemplo, é triste quando vamos atender uma simples ocorrência de furto de um botijão de gás, ou de ferramentas, e encontramos as vítimas chorando por não possuir recursos para repor os bens levados. Da mesma forma, é triste periciar locais de violência contra a mulher onde encontramos mulheres e crianças amedrontadas.
Os locais de morte violenta são quase sempre repletos de tristeza e de comoção por parte dos familiares e amigos de quem faleceu, mas temos que atuar centrados na missão de esclarecer os fatos e não nos deixar afetar, por vezes as pessoas não entendem quando pedimos para afastar ou saírem do local do crime, não entendem como isso pode prejudicar a administração da justiça lá na frente. Os acidentes de trânsito também são difíceis de se trabalhar.
Mas possivelmente você ouvirá de quase todos os peritos que os casos mais difíceis de se trabalhar são os que envolvem crianças como vítimas.

O perito criminal é um dos grandes aliados dos policiais para a elucidação dos crimes. Em nosso Estado as estatísticas de elucidações são positivas. Como você avalia esse trabalho em busca da verdade dos fatos?


PAULO- O ideal seria que os crimes fossem evitados, mas em minha opinião atribuo tais números positivos (que sempre podem melhorar) à atuação incansável de todos os agentes que compõem a segurança pública aqui no MS (policiais civis, militares, penais, federais, bombeiros e guardas municipais) e também a atuação conjunta e harmoniosa entre os órgãos de segurança deste Estado, sempre colocando a sociedade em primeiro lugar. 
O perito é apenas um elo dessa corrente, quando ocorre um crime o sucesso do trabalho depende do primeiro profissional da segurança pública que chega no local. Vamos a mais um exemplo, uma pessoa ouve tiros, ela ligará para a PM ou Guarda, nesse momento a central aciona a viatura mais próxima, esta equipe ao chegar no local percebe que aconteceu um crime, existe um corpo sem vida caído ao chão, nesse momento um procedimento complexo é iniciado, os policiais que primeiro chegaram no local isolam essa cena e entram em contato com a delegacia de polícia civil, o delegado liga para o perito criminal, policias civis, militares, guardas municipais, delegados e peritos atuam em conjunto para montar o quebra cabeças do que aconteceu. Quanto ao perito criminal, nos cabe encontrar, catalogar e apreender todos os vestígios relevantes do local (projéteis, capsulas, objetos, DNA, impressões digitais) e demonstrar através da ciência como esses vestígios se relacionam. 
Por isso é importante que toda a sociedade coopere quando verem um crime, não se aproximem se não for para prestar socorro, uma simples cápsula de munição que é removida do local pode prejudicar a análise de toda a dinâmica dos fatos, bem como de definição da autoria.

POR: CRISTINA NUNES

Fonte: Dourados Agora