O jornalista e radialista baiano Júnior Leal, de 31 anos, se mudou com a família para a cidade de Vila Velha, no Espírito Santos, no final de 2021. Ele, que é negro, a esposa e a filha foram morar um condomínio do bairro Praia de Itaparica e, segundo seu relato nas redes sociais, nada de estranho ocorreu até o dia 21 de fevereiro.

Nesta data, Leal conta que foi à academia do condomínio com a esposa e, quando voltava para ingressar no prédio onde mora, o porteiro se recusou a abrir a porta principal do edifício, justificando que ele estava suado e com roupas de ginástica. Seria necessário, então, dar a volta na área do bloco para entrar por uma porta lateral, por onde os moradores saem com o lixo.

O jornalista contou que estranhou, mas não questionou o funcionário porque aquela poderia ser uma norma do condomínio, e como estava lá havia apenas dois meses, sem conhecer direito as regras, acabaria por arrumar uma discussão à toa.

Leal então deu a volta e ao chegar no rol dos elevadores viu um outro morador, branco, suado e com trajes esportivos entrar pela porta em que acabava de ser barrado. Ele não disse nada, mas afirmou que, a partir dali, tinha certeza que seu caso era de racismo.

“Ao perceber que se tratava de um crime, fui ao apartamento da síndica. Lá, o seu marido (também branco) nos atendeu e então pedi para falar com ela e relatar o fato. O mesmo comunicou que ela estava em uma aula on-line naquele momento e que não poderia nos atender. Frisei que tinha acabado de acontecer um CRIME de RACISMO e que se ele contasse para ela sobre a gravidade da situação, ela certamente iria entender e nos receber. Ele pediu para aguardar do lado de fora do apartamento deles e uns dois minutos depois voltou dizendo que ela não iria nos atender, falando para que fossemos à delegacia registrar um boletim de ocorrência. Fiquei sem acreditar e contestei novamente. “Ela não virá nem na porta nos atender? Mesmo depois de você ter relatado que acabou de acontecer um crime?”. E ele afirma que sim”, relatou Leal no seu perfil do Instagram.

Outro fato que ficou marcado para o jornalista baiano, diante do caso de racismo, foi não poder comemorar o aniversário da filha pequena, já que teve que passar boa parte da noite no distrito policial dando andamento à denúncia.

“Esse dia jamais sairá da minha cabeça, primeiro por ser aniversário da minha filha, segundo por não poder cantar parabéns junto com ela, pois estávamos na delegacia”, desabafou.

Algum tempo depois do contato com a síndica, que posteriormente pelo WhatsApp se recusou a dar o nome completo do porteiro para o registro do B.O., Leal ainda ouviu do subsíndico, um policial militar branco, também voltando da academia suado, que não entendia a ordem do funcionário, já que ele sempre passava por ali.

O caso, que só foi revelado agora, mais de um mês depois do ocorrido, está em vias de ir para a Justiça. Leal acionará não só o porteiro, mas também a administração do prédio.

“Fizemos o B.O. e começamos a dar entrada no processo criminal contra o porteiro, enquanto no processo civil vamos contra o condomínio, pois os representantes fizeram pouco caso para resolver esse crime”, explicou a vítima de racismo.

Nos últimos tempos, segundo o morador discriminado, muitos vizinhos deixaram de cumprimentá-los e coisas estranhas vêm acontecendo. O interfone toca constantemente, avisando sobre pedidos e encomendas que não foram feitos pela família, assim como ligações telefônicas incomuns têm perturbado a família.

Sobre o sentimento que ficou em relação ao lugar, o jornalista conta que apenas quer sair de lá depois de tudo.

“Viemos há quase três meses para o Espírito Santo por motivos de trabalho e sonhando com uma qualidade de vida melhor, e acreditem, já estamos arrumando as nossas coisas para fugirmos daqui, sim, FUGIRMOS, com medo sobre o que pode vir a acontecer com as nossas vidas”, concluiu Leal.