Conselheiros da Petrobras ouvidos pelas CNN preveem que Caio Mario Paes de Andrade deve ter de dois a quatro votos contrários e de abstenções na eleição para presidente da estatal marcada para a manhã desta segunda-feira (27). O número não é suficiente para impedir que o executivo assuma o cargo.

A reunião extraordinária do Conselho Administrativo (CA) para decidir sobre a indicação de Caio Mario Paes de Andrade para comandar a estatal está marcada para as 11h. O rito prevê que antes os conselheiros decidam se ele pode integrar o conselho e, depois, realizem a eleição para presidente. Quando for aprovado ao conselho, Paes de Andrade pode ser admitido virtualmente para acompanhar sua eleição a presidente, mas sem direito a voto.

O Conselho de Administração da Petrobras tem 11 membros, mas com a renúncia de José Mauro Coelho na última segunda-feira (20) serão dez votos em jogo. São tidos como contra Paes de Andrade os da representante dos trabalhadores, Rosângela Buzanelli, que vem criticando as sucessivas mudanças no comando da estatal e o de Francisco Petros, que representa acionistas minoritários e já votou contra Paes de Andrade na reunião do Comitê de Elegibilidade.

São tidos como votos a favor de Paes de Andrade os votos do presidente do Conselho, Márcio Weber e dos indicados pelo governo Luiz Henrique Caroli e Ruy Flaks Schneider, além dos representantes de acionistas Marcelo Gasparino da Silva, Juca Abdalla e Marcelo Mesquita.

Com isso, a expectativa é que Paes de Andrade pode ter assegurado um placar 6 a 2 a favor de seu nome. As dúvidas que restam aos conselheiros ouvidos pela CNN são sobre os votos de Murilo Marroquim de Souza e Sonia Julia Sulzbeck Villalobos. A reportagem tentou contato com eles, mas não conseguiu.

Apesar de terem sido indicados pelo ex-ministro Bento Albuquerque, Murilo e Sônia têm postura mais independente na atual administração. Ele é geólogo com mestrado em geofísica pela Universidade de Houston, Texas, nos Estados Unidos e já atuou nessa área em mais de 20 países na América, Europa, África e Ásia. Ela é bacharel em administração pública, tem mestrado em administração de empresas com especialização em finanças pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e é professora n Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper).

Resistência interna e protestos externos

Além da resistência interna, Paes de Andrade enfrenta protestos externos. A Federação Única dos Petroleiros (FUP) e Associação Nacional dos Petroleiros Acionistas Minoritários da Petrobras (Anapetro) entraram na Comissão de Valores Mobiliários contra o executivo e ensaiam novas ações jurídicas caso o nome dele seja confirmado no comando da estatal.

A brecha para isso é uma ponderação do departamento de Compliance da Petrobras, que avaliou que o Paes de Andrade não cumpre todos os requisitos exigidos. A equipe de Compliance indicou lacunas na formação e experiência de Andrade para assumir como o CEOs de outras petrolíferas do mundo.

Mesmo com a ressalva, na última sexta-feira (24), o nome de Paes de Andrade recebeu o aval do Comitê de Elegibilidade (Celeg) – composto por três conselheiros e dois membros independentes do colegiado – para assumir a presidência da estatal.

Caio Paes de Andrade tem formação em Comunicação Social pela Universidade Paulista, pós-graduação em Administração e Gestão pela Harvard University e é mestre em Administração de Empresas pela Duke University, mas os diplomas internacionais não são validados pelo Ministério da Educação.

Próximos passos

O rito da eleição de Caio Paes de Andrade é semelhante ao de José Mauro Coelho. A diferença é que no caso de Paes de Andrade, o nome não foi referendado pelos acionistas via Assembleia, justamente por conta da renúncia.

Se for eleito pelo Conselho, Caio Paes de Andrade será o quarto presidente a assumir a Petrobras sob a gestão de Jair Bolsonaro (PL). O atual Secretário de Desburocratização do Ministério da Economia deve ter como um de seus primeiros atos a reforma no alto escalão, trocando diretores mantidos por seus três antecessores.

A assinatura do termo de posse é tida como certa para a tarde desta segunda por fontes do alto escalão da Petrobras. Restaria saber se ele vai querer realizar uma cerimônia, como fez seu antecessor.

Política de preços

Após a reunião do Celeg, a Petrobras divulgou a ata do encontro. De acordo com a estatal, Paes de Andrade negou ter recebido qualquer “orientação específica ou geral” do governo federal, acionista majoritário da empresa, para mudar a política de preço dos combustíveis. A declaração foi dada por escrito, após ele ter sido convidado para uma entrevista presencial com o Celeg e ter declinado do encontro. No entanto, ele aceitou responder perguntas enviadas pelo grupo.

A resposta de Paes de Andrade foi narrada na reunião do Celeg. Ele recebeu três votos favoráveis e um contrário, vindo do presidente do Celeg, Francisco Petros, representante de acionistas minoritários.

“Em relação à capacidade de gestão do candidato, com o devido respeito, não encontrei nos documentos disponibilizados o respaldo que me permita formar uma convicção favorável ao candidato”, disse Petros.

O conselheiro apontou que Andrade é formado em comunicação social, área não vinculada à atuação da Petrobras. Além disso, apontou que a experiência do candidato foi em empresas com menor complexidade que a estatal.

Antes da análise, o gerente executivo de Recursos Humanos da Petrobras, Juliano Mesquita Loureiro, apontou que a formação não seria um impeditivo final, já que a legislação permite uma análise caso a caso.

Também foi levantado que Caio Paes de Andrade não tem os dez anos de experiência em liderança, preferencialmente, no negócio ou área correlata. Os outros três membros do Celeg entenderam que a palavra “preferencialmente” também não vedaria o nome do indicado.

A CNN questionou Caio Mario Paes de Andrade sobre as lacunas apontadas em seu currículo, mas ele não quis comentar o assunto.