O 5G puro chegou ao Brasil nesta quarta-feira (6), com a capital Brasília sendo a primeira cidade a receber a tecnologia. A expectativa é que Belo Horizonte, Porto Alegre e São Paulo sejam as próximas a cidades a implementar o 5G, e que a tecnologia chegue até todas as capitais brasileiras até 29 de setembro.
Dados mostram que a implementação do 5G em países que realizaram o leilão antes do Brasil levou a impactos econômicos positivos, com novas possibilidades de produtos, serviços e modelos de negócios. A tecnologia promete melhora na velocidade e menos atraso de resposta nos processos com a baixa latência.
Estudo da Accenture, empresa de consultoria global, na Europa indica que o 5G vai gerar um aumento de mais de 2 trilhões de euros em vendas entre 2021 e 2025, além de agregar 1 trilhão de euros ao Produto Interno Bruto (PIB).
Já nos EUA, os ganhos serão de mais de US$ 2,7 trilhões em vendas, enquanto o PIB terá acréscimo de US$ 1,5 trilhão no período estipulado, de acordo com a consultoria. A pesquisa da Accenture destaca que o 5G tem potencial para criar 16 milhões de empregos em todos os setores da economia norte-americana.
Em relação ao Brasil, a Accenture diz que ainda é cedo para ter dados precisos sobre os efeitos da tecnologia no país.
O especialista em tecnologia Arthur Igreja afirmou ao CNN Brasil Business que, apesar de ainda não ser possível observar números consolidados referentes aos impactos econômicos do 5G no Brasil, é certo que a tecnologia trará ganhos a diversos mercados.
“Uma conexão mais rápida ajuda a eliminar a burocracia e torna os processos mais ágeis. É uma tecnologia que traz dois impactos diretos: o aumento de produtividade e a criação de empregos”, disse o especialista.
Igreja explicou que além da criação de mão de obra especializada para a implementação do 5G nas regiões do país, com a atuação direta na instalação de antenas e no ajustamento da infraestrutura para adequação da rede a tecnologia viabiliza novos modelos de negócios.
“Nesta frente, teremos empresas que vão estar muito conectadas com os conteúdos do 5G e as novas possibilidades, como a telemedicina, a mobilidade urbana, o metaverso… são mercados que vão demandar profissionais e com remuneração relevante. Neste sentido, o 5G também é um gerador de empregos”, declarou.
“Toda vez que temos essas tecnologias de infraestrutura de base, anos depois que vamos entender o impacto que isso tem. Sem banda larga, não existiria streaming, por exemplo. Mais adiante nós vamos conseguir enxergar de forma mais causal os impactos do 5G e para quais setores ele foi mais determinante”, ressaltou.
Inovação em negócios
A expectativa em torno do 5G é de que ele agilize os processos operacionais já existentes, com menos burocracia e lentidão e mais rapidez nas aplicações em tempo real, segundo os especialistas ouvidos pelo CNN Brasil Business.
Eduardo Neger, presidente da Associação Brasileira de Internet (Abranet), disse acreditar que o 5G aprimora um novo ambiente de negócios, no qual os empreendedores e startups ampliam a capacidade de inovação em todos os setores.
“48% dos profissionais dependem de internet doméstica para trabalhar ou administrar seu próprio negócio em casa, segundo pesquisa mundial da indústria. Portanto, a tecnologia é essencial para as pequenas e médias empresas (PMEs), que não possuem os mesmos recursos e infraestrutura de TI das grandes empresas”, destacou.
“De acordo com a pesquisa, as PMEs representam cerca de 90% das empresas e mais de 50% dos empregos em todo o mundo. Nos mercados emergentes, as PME criam sete em cada 10 empregos. A banda larga em 5G irá desempenhar, portanto, um papel fundamental no crescimento e evolução desta categoria de negócios”, acrescentou.
Segundo os especialistas, também será possível melhorar os serviços que usufruem de Internet das Coisas, desde sistemas de pagamentos até a viabilização de carros autônomos.
Outras alternativas são soluções para serviços públicos, como o acompanhamento de consumo de água ou de lâmpadas de postes.
A velocidade e a latência do 5G ainda devem beneficiar atividades como a telemedicina e o agronegócio, com a melhoria das aplicações em tempo real nestes setores.
“Nós temos uma série de aplicações em tempo real que não podem ter esse atraso. Ou seja, imagina um médico realizando uma cirurgia à distância manipulando um braço robótico, ele precisa ter uma precisão absoluta, um feedback instantâneo”, destacou o especialista em tecnologia Arthur Igreja.
Já para o agronegócio, a redução da lentidão entre as redes permitirá uma melhor operação à distância de maquinário pesado, com mais suporte à conexão entre os dispositivos.
Conforme explicou Igreja, a velocidade permitirá uma experiência com menos delay em conexões à distância, seja em ligações de vídeo, chamadas de voz ou transmissões ao vivo.
“Quando o 5G começar a ser utilizado, as transmissões poderão criar milhões de possibilidades para os telespectadores. Será possível, por exemplo, com muito mais facilidade, ter uma transmissão em que se possa escolher três formas diferentes de assistir ao mesmo jogo esportivo”, explicou Bruno Maia, professor de Marketing da PUC-Rio e fundador e CEO da “Feel the Match”, startup que desenvolve negócios e propriedades de conteúdos ao esporte.
A indústria de games e entretenimento também deverá ser beneficiada com as propriedades do 5G, de acordo com Sylmara Multini, CEO da IFG NFT.
“Jogos online e streamings não irão sofrer com atrasos de downloads e o mundo do metaverso será ainda mais ágil e divertido. Os NFTs, como não poderia deixar de ser, estarão entre os maiores beneficiados”, salientou.
Dificuldades
O conselheiro e vice-presidente da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Moisés Moreira, disse que é esperado que as regiões urbanas tenham o 5G até janeiro de 2026.
A Abranet identifica alguns fatores que podem tornar mais lenta a implantação e adoção do 5G. Segundo a Associação, a maioria das cidades brasileiras ainda não atualizou sua legislação para implantação de antenas.
Além disso, fatores como a falta de mão de obra qualificada no mercado e as dificuldades logísticas na cadeia de fornecimento de semicondutores devem atrapalhar a implementação da tecnologia em mais partes do Brasil.
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