Verba do governo federal repassada ao GDF será usada para contratação de profissionais, aquisição de material e reforço no Plano de Contingência. Também haverá restrição de atendimentos, abertura de leitos e capacitação de hospitais
O Distrito Federal, a terceira unidade da Federação com mais casos (36) de coronavírus confirmados, começa a investir em medidas para evitar a propagação da doença e, consequentemente, o colapso nos hospitais. Nesta quarta-feira (18/3), a Secretaria de Saúde recebeu repasse de R$ 6,4 milhões do governo federal para implementar ações de combate à Covid-19. Além disso, a pasta restringiu os atendimentos eletivos, como cirurgias e o ambulatório das unidades de saúde, e capacitará outros hospitais para receber pacientes diagnosticados.
O montante cedido pelo Ministério da Saúde será, de acordo com a Secretaria de Saúde, usado para contratação de profissionais, aquisição de insumos e materiais e outras ações previstas no Plano de Contingência. A pasta estuda o aluguel de equipamento para modernização das unidades de terapia intensiva (UTI). A ideia é contratar 350 pessoas: 250 médicos e 100 enfermeiros aposentados e disponíveis na lista de espera de concursos.
Durante coletiva ontem, o secretário adjunto de Assistência à Saúde, Ricardo Tavares, informou que as redes pública e particular enfrentam problemas para fazer exames da Covid-19. “Ainda há estoque de testes, mas é uma doença que está em crescimento exponencial. Até os laboratórios privados estão com dificuldades de comprar insumos por causa da grande demanda de pacientes”, ressaltou.
Tavares lamentou que muitos exames laboratoriais foram feitos sem necessidade, de casos que não se enquadram como notificações suspeitas. “Teve muita gente que fez o exame sem estar no quadro característico do protocolo do Ministério e da Secretaria da Saúde. Houve desperdício de insumos, e vamos fazer importação dos kits, além do que será fornecido pelo ministério”, adiantou.
Para reforçar o atendimento, o secretário de Saúde, Francisco de Araújo Filho, informou que abrirá 90 leitos de UTI no DF. “Estamos disponibilizando 60 no Hospital Regional de Santa Maria, 15 no Hospital Regional de Taguatinga (HRT) e outros 15 no Hran (Hospital Regional da Asa Norte)”, garantiu. Segundo Francisco, mais leitos devem ser abertos na próxima semana. Questionado se mais alguma unidade se tornaria referência no atendimento, Francisco informou que não usará essas classificações para os hospitais e que a ideia é adaptar o máximo para o combate à Covid-19.
Contágio
A transmissão do coronavírus evoluiu no Distrito Federal. O contágio passou de importado (quando viajantes voltaram doentes à capital), para local (quando a pessoa é infectada na cidade e é possível determinar a origem). Na terça-feira, o Ministério da Saúde informou que havia seis casos em investigação e, caso fossem comprovados, seriam os primeiros registros de transmissão comunitária, quando o paciente e o governo não conseguem apontar a origem da doença. Entretanto, a Secretaria de Saúde descartou todos.
Até terça, havia um caso de transmissão local. Esse número subiu para cinco, no início na tarde de ontem, segundo a Secretaria de Saúde. Além disso, há 174 notificações em investigação no DF, contra 191 do boletim anterior. De acordo com o infectologista da pasta, Eduardo Hage, há quatro crianças internadas no Hran com sintomas da doença. Entretanto, não deu detalhes dos pacientes, como idade, sexo e forma de contágio.
Dos casos confirmados, a primeira paciente diagnosticada com a doença no DF, uma mulher de 52 anos moradora do Lago Sul, apresentou piora do quadro clínico. Ontem, ela teve mais complicações respiratórias e, agora, está em coma induzido, respirando por aparelhos. De acordo com a pasta, o quadro dela é grave e, apesar de estar com a função renal preservada, apresenta síndrome respiratória aguda severa, além de comorbidades (quando duas doenças atingem uma pessoa), que agravam o quadro clínico. Ela está sob cuidados intensivos da equipe multidisciplinar e suporte técnico-científico.
Alerta
Devido ao aumento de casos de coronavírus, o GDF suspendeu as cirurgias eletivas, além dos atendimentos ambulatoriais e odontológicos por 15 dias. A medida entrou em vigor e vale para todos os hospitais públicos da capital. As cirurgias oncológicas e cardiovasculares e as intervenções de emergência serão mantidas. De acordo com a Secretaria de Saúde, é preciso aguardar contato dos profissionais de saúde tanto para avisar sobre cancelamento quanto remarcação.
Além disso, a pasta alerta que nenhum dos pacientes com algum desses procedimentos suspensos deve procurar hospitais, ambulatórios ou policlínicas. A medida faz parte da quinta atualização do Plano de Contingência. Apesar das medidas, a secretaria reforçou que todas as ações tomadas podem sofrer alteração no próximo dia, a depender da disseminação do coronavírus na capital.Continua depois da publicidade
Novo canal e denúncia
A Comissão de Defesa dos Direitos Humanos da Câmara Legislativa criou um canal para denúncias relacionadas ao coronavírus. A ideia da medida é receber relato de pacientes e servidores públicos sobre possíveis violações no combate à Covid-19. O dispositivo entrou em vigor na manhã de ontem e recebeu denúncias de falta de insumos e equipamentos de proteção individual (EPI) para servidores com alta exposição. As queixas podem ser encaminhadas por WhatsApp, pelo número (61) 99904-1681.
Fonte: Correio Braziliense