A atriz vencedora do Oscar veio promover o filme no Brasil e o AdoroCinema teve a chance de conversar com ela.

Depois de estrelar grandes produções como How To Get Away With MurderA Voz Suprema do Blues e Um Limite Entre Nós, além de ganhar os prêmios Tony, Emmy e Oscar, Viola Davis continua liderando trabalhos de qualidade e não pretende parar por aí!

A brilhante atriz agora produz e estrela A Mulher Rei, filme que chega aos cinemas brasileiros em 22 de setembro e é dono de respeitáveis 95% de aprovação no Rotten Tomatoes. Na trama, Davis interpreta Nanisca, líder do exército feminino de Agojies, designadas a proteger o Reino de Daomé, um dos mais poderosos da África nos séculos XVII e XIX.

Em entrevista exclusiva ao AdoroCinema, a atriz falou sobre a motivação para escolher interpretar um blockbuster liderado por mulheres negras. “Eu decidi contar a história quando eu realmente acreditei que era uma realidade depois que Maria Bello (roteirista) lançou [para o público], quando ela me deu um prêmio em 2015.”

Eu pensei comigo mesma: “Hollywood nunca vai fazer isso. Mulher negra na liderança, uma mulher negra guerreira. Eu quero ver isso, mas, não sei…” Eu estava exausta naquela época. E então, a próxima coisa que eu soube é que nós estávamos procurando por um roteirista. De repente, vi as possibilidades. Foi a coisa que me manteve firme e acordada.

A atriz afirmou que não conhecia a história real das Agojies até se tornar parte de A Mulher Rei. “Eu soube disso quando peguei o filme. Antes disso, eu conhecia as Amazonas, que é o nome dos colonizadores. E foi só quando peguei o filme que aprendi seus nomes reais como Agojie e vi as fotos. Então comecei a estudá-las e minha mente explodiu.”

“A única unidade militar feminina que eu conhecia era a Mulher-Maravilha. Isso é tudo que nos dizem. E a Mulher-Maravilha não é real. Mulher-Maravilha é um mito. Elas (Agojies) eram reais. E isso explodiu minha mente.”

Ainda em conversa com o AdoroCinema, Viola Davis falou sobre sua produtora JuVee Productions, criada a partir da necessidade de tirar mulheres negras do papel de empregadas ou mães em luto, além de dar espaço para que pessoas de cor mostrem sua força e complexidade nas telas. A atriz também mencionou sua amizade com Taís Araújo e respondeu se trabalharia com ela em algum projeto. Confira abaixo:

Viola Davis veio ao Brasil promover o filme


JuVee Productions
Viola Davis como a personagem Nanisca em A Mulher Rei (2022).

A gigante atriz de Hollywood escolheu o Brasil como um dos lugares mais importantes para promover o filme. Segundo ela, nosso país tem grande relevância histórica para levantar debates sobre raça e colorismo. O AdoroCinema esteve na coletiva de imprensa com Viola Davis nesta segunda-feira (19), no Copacabana Palace, antes de termos nossa entrevista individual com ela.

“Sabemos que 12 milhões de escravos vieram para o mundo ocidental de várias partes da África. E a primeira parada da maioria dos africanos foi no Brasil, por causa das plantações, e trazidos para cá e depois espalhados para as outras colônias. E é isso que está em minha mente. Esse filme me mostrou a conexão que temos como pessoas negras e a contribuição do Brasil nisso é enorme. É importante que a gente não sinta que há um estranhamento entre nós. Todos viemos do mesmo lugar.”

Viola Davis está iniciando uma nova era no cinema, com o objetivo de mostrar a Hollywood o quão poderoso pode ser um filme composto por pessoas de cor, como seria se houvesse um espaço mais plural na sétima arte.

Essa é uma importante questão para as mulheres negras ao redor do mundo, que agora têm opções de se ver nas telas. Elas têm a chance de serem vistas de uma maneira que realmente não vimos antes. E, quando vemos isso no cinema, você vê alguns dos maiores cineastas, com alguns dos seus melhores filmes, e não temos presença neles. Havia uma sensação de que somos meio invisíveis. E eu penso, mais uma vez, no que tudo isso culmina.

“[Em A Mulher Rei] elas se vêem como valiosas e, esperançosamente, isso ajudará as mulheres negras a explorar esse espírito guerreiro que elas têm dentro delas, porque tudo vem de pontos de vista no filme. E é muito, muito importante que as mulheres negras vejam que podem avançar, porque não precisa ser uma presença masculina, nem precisa ser uma presença branca. Você tem que se sentar com essas mulheres negras por 2 horas e 6 minutos. Isso significa muito para nós.”

Julius Tennon, produtor do filme e marido da atriz, também estava na coletiva e relatou as dificuldades de entregar uma história sobre os povos negros africanos, em uma indústria tão dominada por pessoas brancas.

Esse filme demorou sete anos para ser produzido. Contar uma história sobre pessoas negras em Hollywood nunca é fácil, mas superamos todas as dificuldades. Os desafios de desenvolver um filme sobre pessoas com cor sempre são mais difíceis. Esse filme, por exemplo, pode gerar uma mudança [na história do cinema] que todos queremos ver.

De acordo com ele, é importante que o filme faça dinheiro, já que é o que Hollywood demanda para que produções como A Mulher Rei continuem sendo feitas. “É necessário comercializar filmes com pessoas negras. Essas produções precisam fazer dinheiro e, quando fizerem, aí sim, veremos uma proliferação desse tipo de narrativa.”

“É importante ter personagens como as do filme porque a arte imita a vida, e precisamos saber que elas também são mulheres. As pessoas não nos verem não é mais aceitável. Esperamos que esse filme seja o primeiro de muitos [com representatividade humanizada de pessoas negras] e isso só será possível se alcançarmos o maior número de pessoas”, concluiu Davis.