Uma juíza proibiu a campanha “O Brasil não pode parar”. E um juiz suspendeu o meu decreto que classificava igreja e casa lotérica como atividades essenciais.Cadê o Moro que não vê isso aí? O sujeito tá mais escondido que garçom em festa de casamento em Itacaré.

por Jornalistas Livres

José Roberto Torero*

Pô, Diário, todo mundo quer mandar em mim. Assim não dá! Tão pensando que eu sou o quê? Estagiário?

Uma juíza proibiu a campanha “O Brasil não pode parar”. E um juiz suspendeu o meu decreto que classificava igreja e casa lotérica como atividades essenciais.

Querem me amarrar, me amordaçar, me algemar, me botar numa camisa de força.Cadê o Moro que não vê isso aí? O sujeito tá mais escondido que garçom em festa de casamento em Itacaré.

A coisa já começou no sábado de manhã. Teve uma reunião lá no Palácio do Planalto e os ministros pediram que eu não fizesse um novo pronunciamento.

O pessoal quer me enquadrar. Mas eu lá sou homem de ler relatório? Tiro dinheiro da ciência e vou obedecer cientista? Odeio comunista e vou imitar a China?

O Mandettachegou ao ponto de pedir que eu não andasse de metrô e de ônibus em São Paulo, que nem eu ameacei numa entrevista. E falou que, se eu fizesse isso, ele ia ter que me criticar.

“Aí eu vou ter que demitir”, eu respondi. E ele ficou quieto.

O Mandetta quer posar de bonzinho, mas foi contra o Mais Médicos.Minha vontade era tirar ele e por o Antonio Barra Torres, presidente da Anvisa, que foi comigo na manifestação do dia 15. Esse sim ia ser um ministro corajoso!

A verdade, Diário, é que o meu pessoal está fraquejando. O Carlos Moisés, governador de Santa Catarina, prometeu que ia acabar com a quarentena, mas pelo jeito era primeiro de abril. O sujeito voltou atrás e desistiu. A turma das SUVs de Camboriú não vai perdoar. Frouxo do caramba!

O pessoal tá com muito medo. Mas fazer o quê? É que nem aquela frase bonita que eu disse: “Algumas mortes terão”.

Pelo menos a gente tá lançando umas feiquenius boas. Tipo a do borracheiro que morreu porque um pneu estourou na cara dele e escreveram “covid-19” no atestado de óbito. Grande Bia Kicis!

Pra me vingar de toda essa repressão, Diário, ontem, domingão, eu dei um rolezinho pelo Distrito Federal. Entrei nos comércios, falei com vendedor de churrasquinho, tirei foto, juntei gente, fiz uma balbúrdia!

Mas o Twitter censurou minhas postagens. Até tu,Twitter? Quem te viu, quem te vê…

Ah, só você me compreende, Diarinho…

@diariodobolso

*José Roberto Torero é autor de livros, como “O Chalaça”, vencedor do Prêmio Jabuti de 1995. Além disso, escreveu roteiros para cinema e tevê, como em Retrato Falado para Rede Globo do Brasil. Também foi colunista de Esportes da Folha de S. Paulo entre 1998 e 2012.
Fonte: Jornalistas Livres