O comandante-chefe Edberto Vasconcellos Guimarães conciliava o amor pela aviação com os seus filmes amadores. “Bebeto Mãos de Seda”, como era conhecido pela suavidade de seus pousos, comprava equipamentos para registrar cenas de família, de suas viagens e de aviões. Demitido com outros cinco mil funcionários da Panair, em 1965, o piloto morreu em 1969, em decorrência de um câncer agravado pela depressão causada pela saída abrupta da empresa na qual trabalhava há duas décadas. Tinha 45 anos. Neste domingo (1), pela primeira vez, o público poderá ver cenas registradas na época pelo comandante, com seu olhar particular sobre o fechamento da companhia: “O caso Panair. A injustiça dos homens”. O pequeno tesouro, em película de 16 milímetros, foi cedido ao Congresso em Foco pela publicitária Andréa Borda Guimarães Carrapito.
Assista ao vídeo inédito, só aqui no Congresso em Foco:
Tesouro particular
O filmete reúne imagens de jornais da época, noticiando o fechamento da empresa. Galpões desertos, equipamentos parados, vários aviões desmontados na pista do aeroporto Santos Dumont, no Rio, onde ficava a sede da empresa. Aeonaves sem hélices, Sem áudio originalmente, o filme traz as marcas dos seus quase 60 anos, com imagens pouco nítidas. Um raridade histórica e inédita preservada pela família.
Depois de negar apoio ao golpe de 1964, a maior companhia aérea do país foi fechada em fevereiro de 1965 por determinação do governo à época. A Panair perdeu aviões, rotas e todo o capital construído em quase 40 anos de existência. Só não perdeu a memória, preservada pelos poucos funcionários ainda vivos, por seus familiares e pelo atual dono da empresa, Rodolfo da Rocha Miranda, filho de Celso da Rocha Miranda.
Reparação tardia
Celso era sócio de Mário Wallace Simonsen. Ambos estavam entre os homens mais ricos do país na época, com negócios em várias frentes. Vários deles foram esmagados pela bota pesada da ditadura.
Andréa tinha apenas oito anos quando seu pai morreu. Na sexta, a publicitária carioca, de 63 anos, se emocionou com o reconhecimento oficial da Comissão de Anistia. “Fica aquela lembrança da paixão do meu pai e de todos os funcionários pela Panair. É uma mistura de tristeza e revolta, porque o fechamento mexeu com a estrutura de todos eles, cada um de uma forma”, diz Andréa ao Congresso em Foco. “É algo indescritível. Meu pai estaria muito emocionado, foi o reconhecimento de uma injustiça”, acrescenta.
Brasil pede perdão a 5 mil funcionários da Panair, empresa aérea fechada pela ditadura