Cientistas políticos afirmam que é possível recuperar eleitorado, mas missão será “difícil e demorada”
São Paulo – As eleições municipais de 2020 registraram um recorde de abstenção e, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 11 milhões de eleitores deixaram de votar no segundo turno, em todo o Brasil, o que representa 29,47%. Para cientistas políticos, o desinteresse e desgaste do eleitorado com o sistema político coloca um novo desafio para partidos e candidatos em 2022.
Em algumas capitais, os índices de abstenção foram recordes. No Rio de Janeiro, 35,4% dos eleitores deixaram de votar. Em Porto Alegre, 32,8% faltaram e São Paulo teve 30,8% de não votantes. O cientista político e professor da Universidade Federal do ABC (UFABC), Vitor Marchetti, alerta que a facilitação de justificar a ausência, por meio do E-Título, pode aproximar o Brasil ao voto facultativo.
Os dados de 2020 mostram que a abstenção nas eleições é um fenômeno crescente. Em 2018 e 2016, a média de ausência foi de 21%. Anteriormente, nas eleições para cargos em municipais de 2012, 19,12% se ausentou. Em 2008, 18,09% se abstiveram e 17,3% faltaram em 2004. O cientista político e coordenador do mestrado Gestão em Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Cláudio Couto, acredita que as próximas campanhas eleitorais terão de incentivar os eleitores a comparecem à urna, assim como ocorre nos Estados Unidos.
“É possível que ocorra o momento em que os candidatos terão que pedir não só o voto, mas o comparecimento do eleitor. Isso já começou, com as campanhas do TSE para encorajar as pessoas a votarem, mas não ficaria surpreso se isso entrar no discurso dos próprios candidatos”, disse ele. Marchetti adota a mesma linha de raciocínio. “Agora, os políticos não precisam convencer os eleitores a votarem neles, mas também a sair de casa”, acrescentou.