São Paulo – Os investimentos dos fundos de pensão no país podem ajudar a criar emprego e renda, e contribuir para a retomada do crescimento da economia. Mas para que parte do capital de R$ 1 trilhão (cerca de 13% do PIB) que os fundos mantêm seja destinada ao fomento de projetos de infraestrutura econômica e social, é preciso que “o governo realinhe o modelo de desenvolvimento, visando o crescimento da economia real”.

É o que diz o presidente da Associação Nacional dos Participantes de Fundos de Pensão e dos Beneficiários de Planos de Saúde de Autogestão (Anapar), Antônio Bráulio de Carvalho. Ele considera que o governo precisa criar políticas para o aumento de empregos e da renda dos trabalhadores.

Nesta entrevista, Carvalho analisa a conjuntura e as perspectivas para 2021, e fala dos desafios dos fundos de pensão neste momento ainda de pandemia e de incertezas não apenas no Brasil, mas no mundo. “A novidade trazida por essa virada de ano é que o mundo inteiro deverá conviver com taxas de juros muito baixas ou negativas por um longo período. E o desafio é que os gestores dos fundos de pensão no Brasil não estão habituados a essa nova realidade, por terem sido educados para atuar tão somente na especulação financeira”, afirma.

Confira a entrevista  

Como você avalia o atual cenário?

A crise mundial do novo coronavírus em 2020 tornou os cenários mundial e brasileiro muito incertos para os próximos anos. No caso brasileiro, adiou, momentaneamente, o debate sobre os problemas estruturais da economia brasileira e a ausência de um projeto nacional de desenvolvimento. Depois de sair de uma recessão em 2015-2016, o Brasil cresceu abaixo de 1,5% em 2017. Já não vinha bem e com a pandemia, a crise se agravou. De acordo com estimativas, o PIB deve recuar entre 4,5 e 5% neste ano. Por isso, o cenário pós-pandemia, que no caso brasileiro não sabemos quando será, porque ainda não temos certeza do início da vacinação e temos um governo vacilante no enfrentamento da crise sanitária, é desafiador para o Brasil, com o fim do auxílio emergencial, aumento do desemprego, precarização do trabalho, manutenção do teto de gastos, apoio insuficiente para micro, pequenas e médias empresas, continuidade da política de enfraquecimento das empresas e bancos públicos e privatização do patrimônio público. E uma enorme crise social e, provavelmente, política.

E como ficam os fundos de pensão nesse cenário incerto e de baixo crescimento?

Primeiramente é preciso entender que os resultados dos fundos de pensão dependem diretamente do desempenho econômico do país. Portanto, as projeções para 2021 devem seguir o padrão de cautela que domina o segmento de previdência complementar há alguns anos, com os dirigentes buscando os títulos públicos como opção para investimentos e os órgãos de fiscalização e regulação criando mecanismos, por meio de normas, para evitar a percepção de aprofundamento do desequilíbrio dos planos de benefícios pelos participantes.

A novidade trazida por essa virada de ano é que o cenário aponta que o mundo inteiro deverá conviver com taxas de juros muito baixas ou negativas por um longo período. E o desafio é que os gestores dos fundos de pensão no Brasil não estão habituados a essa nova realidade, por terem sido educados para atuar tão somente na especulação financeira.  Por fim, uma aposta na eventual valorização da bolsa de valores no Brasil dificilmente terá sustentação no médio e longo prazo se a economia real não retomar a trajetória de crescimento e não passar confiança aos investidores.

Onde investir para alcançar as metas atuariais das entidades fechadas de previdência complementar?

Ironicamente, a necessidade e urgência de retomar o desenvolvimento nacional, poderá resultar em oportunidades de negócios, sobretudo em infraestrutura econômica e social, que permitiria o casamento ideal com o interesse das entidades fechadas de previdência complementar (EFPC). Os fundos de pensão dispõem de recursos de R$ 1 trilhão (cerca de 13% do PIB) e parte desse montante poderá contribuir para suplementar as necessidades do país. Para isso será preciso que o governo realinhe o modelo de desenvolvimento, visando o crescimento da economia real, o aumento de empregos e da renda dos trabalhadores, volte a fomentar as parcerias público-privadas e estruture negócios que deem retorno adequado às metas atuariais dos planos de benefícios. É sempre necessário lembrar que os fundos de pensão constituem o único mecanismo de poupança de longo prazo e sua vocação original é investir no desenvolvimento do país. 

Fonte: RBA