São Paulo – A médica e entusiasta do uso da cloroquina no tratamento da covid-19 Nise Yamaguchi presta depoimento nesta terça-feira (1°) na CPI da Covid no Senado. Oncologista e imunologista, além de diretora do Instituto Avanços em Medicina, de São Paulo, é uma figura chave para mostrar como funcionou o gabinete paralelo do governo Bolsonaro na gestão da pandemia, composto de negacionistas que se recusaram a seguir as diretrizes científicas no combate à covid-19. Esse grupo paralelo que contou com a participação da médica também cogitou mudar a bula da cloroquina, para incluir a covid-19 entre as doenças que poderiam ser tratadas pelo remédio.
Reportagem do site The Intercept Brasil, publicada nesta segunda-feira, com dados obtidos pela Lei de Acesso à Informação, mostra os registros da ida da médica à sede do Ministério da Saúde no ano passado. “De acordo com a lista, Nise Yamaguchi esteve no prédio em pelo menos quatro datas em junho, julho e dezembro de 2020. Em duas delas, a médica passou pela recepção mais de uma vez, nos períodos da manhã e da tarde – o que indica que teve reuniões que ocuparam todo o dia”, afirma Paulo Motoryn na reportagem.
Em depoimento à CPI no mês passado, o diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, disse que, numa reunião com o governo federal, a médica defendeu alterar a bula da cloroquina. Sua intenção, segundo Barra Torres, seria definir o medicamento como eficaz contra o coronavírus. Barra Torres deixou clara sua recusa ao procedimento.
“Yamaguchi é conhecida por defender a hidroxicloroquina e a cloroquina no tratamento de pacientes infectados com o Sars-Cov-2 (vírus causador da pandemia). E foi convidada pelo presidente Jair Bolsonaro a integrar o comitê de crise ainda na gestão do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta”, cita o senador governista Eduardo Girão (Podemos-CE) no requerimento de convocação de Yamaguchi.
Bula impossível
Ouvido pela CPI em 11 de maio, Barra Torres explicou que a alteração da indicação da cloroquina seria impossível, pois só quem pode modificar uma bula de um medicamento registrado é a agência reguladora do país de origem, desde que solicitado pelo detentor do registro.
“Agora, eu não tenho a informação de quem é o autor, quem foi que criou, quem teve a ideia. A doutora [Nise Yamaguchi], de fato, perguntou sobre essa possibilidade e pareceu estar, digamos, mobilizada com essa possibilidade”, esclareceu.
Na quinta-feira (27), o relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), afirmou que a comissão investiga a existência de uma consultoria informal ao governo a favor de métodos considerados ineficazes de enfrentamento à pandemia.
“Não estamos apenas discutindo a eficácia da cloroquina ou do ‘tratamento precoce’. Queremos investigar se essas coisas foram priorizadas em detrimento da vacinação dos brasileiros. E isso poderia ter salvado muitas vidas”, definiu, opinando que o governo não comprou vacinas suficientes por não acreditar em sua eficácia.
A CPI também ouvirá críticos da cloroquina, como a microbiologista e pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP), Natalia Pasternak, e o doutor em virologia Átila Iamarino.
Com informações da Agência Senado.
Fonte: RBA