Tereza Campello, ministra de Desenvolvimento Social e Combate a Fome no Governo Dilma Rousseff, e Ieda Castro, ex-secretaria Nacional Assistência Social do MDS, criticam a gestão do governo Jair Bolsonaro no “Programa Criança Feliz”. “Do ponto de vista metodológico, as visitas às famílias são estéreis, restringindo-se a algumas orientações sobre estímulo e cuidados básicos”, dizem
247 – Em texto publicado no Facebook, Tereza Campello, ministra de Desenvolvimento Social e Combate a Fome no Governo Dilma Rousseff, e Ieda Castro, ex Secretaria Nacional Assistência Social do MDS, criticam a gestão do governo Jair Bolsonaro na área social. As duas afirmam que o desenho do “Programa Criança Feliz”, iniciado no Governo Temer e continuado no Governo Bolsonaro, “limita-se à contratação de um exército de ‘agentes sociais’, sem formação profissional especializada”.
De acordo com o texto, a maior parte das pessoas contratadas para trabalhar no projeto é “com nível médio, constituindo-se um Programa de visitação social, sem qualquer articulação com serviços públicos de promoção e proteção integral às crianças pequenas”.
“Do ponto de vista metodológico, as visitas às famílias são estéreis, restringindo-se a algumas orientações sobre estímulo e cuidados básicos, sem a existência de qualquer protocolo e/ou fluxo que assegure mecanismos de referências intersetoriais para o atendimento integral às necessidades das crianças, das famílias ou mesmo dos ambientes onde vivem”.
Leia a íntegra do texto:
EXISTE “CRIANÇA FELIZ” COM FOME E PAIS DESEMPREGADOS?
O “Programa Criança Feliz”, iniciado no Governo Temer e continuado no Governo Bolsonaro, como qualquer ação na área social, deve ser avaliado dentro do contexto em que é implementado: e o contexto, em questão, é marcado pelo severo desemprego e o desmonte dos sistemas públicos de proteção no Brasil, expresso no desfinanciamento da educação, e da saúde e Assistência Social, tornando as políticas públicas inócuas frente o aumento da pobreza e da fome em todo o país.
O desenho do Programa, rejeitado pelas instâncias deliberativas da Política de Assistência Social, limita-se à contratação de um exército de “agentes sociais”, sem formação profissional especializada, sendo a maioria com nível médio, constituindo-se um Programa de visitação social, sem qualquer articulação com serviços públicos de promoção e proteção integral às crianças pequenas. Do ponto de vista metodológico, as visitas às famílias são estéreis, restringindo-se a algumas orientações sobre estímulo e cuidados básicos, sem a existência de qualquer protocolo e/ou fluxo que assegure mecanismos de referências intersetoriais para o atendimento integral às necessidades das crianças, das famílias ou mesmo dos ambientes onde vivem
Entre equívocos conceituais e metodológicos em relação ao trabalho social com famílias, o projeto apresenta vários problemas:
1) parte do princípio que é melhor a criança ficar em casa com a mãe do que ir para uma creche ou equipamento de educação infantil. Na verdade, é mais barato (por isso caiu nas graças dos liberais de plantão), mas é pior para a criança, que na creche teria acesso a outros cuidados, direitos, comida, socialização, etc. Também é pior para a mãe que fica impedida de trabalhar e tomar suas decisões limitando sua atividade aos cuidados dos filhos. No caso da maioria das famílias pobres isto implica em ter familiares com baixa escolaridade como cuidadores desta criança, e limite às possibilidades de renda e rompimento de padrões de pobreza;
2) O desmonte dos programas de creches e os cortes na educação tornam este esforço inócuo. Se o Criança Feliz fosse um plus, (uma ação adicional às garantias de serviços universais de saúde, educação, assistência social, ao direito à alimentação e qualificação dos espaços públicos favoráveis ao brincar) poderia ser considerado, mas ele tem se mostrado crescentemente um paliativo à destruição da rede de proteção social garantida pela CF88;
3) vai na contra mão da garantia de serviços de qualidade que deveriam contar com profissionais formados e com serviços continuados, como os ofertados no SUAS, a educação infantil e os agentes comunitários de saúde.
O fato de o programa receber algum elogio, quando visto isoladamente, não reduz seu papel tóxico na destruição da rede de serviços socioassistenciais e da Educação Infantil, tornando válida a pergunta: pode ser feliz a criança com pais desempregados e sem renda, com fome, sem saúde, sem educação infantil, sem proteção social? Enquanto isso, mais de um milhão de crianças aguardam desesperadas que suas famílias sejam incluídas no Bolsa Família.
*Tereza Campello é doutora por Notório Saber em Saúde Pública, Economista, Ministra de Desenvolvimento Social e Combate a Fome no Governo Dilma Rousseff, pesquisadora associada a Universidade de Nottingham, Reino Unido
*Ieda Castro é doutora em Política Social. Mestra em Educação Brasileira. Assistente Social. Ex Secretaria Nacional Assistência Social do MDS.
Fonte: Brasil 247