O escritor foi deputado estadual por 8 anos

O escritor foi deputado estadual por 8 anos

Da Redação

6 milhões de livros vendidos. O Mago, sobre Paulo Coelho, “vende tanto no Irã quanto em Israel”, comenta o escritor Fernando Morais.

No Brasil, Olga, sobre Olga Benário, deportada por Getúlio Vargas para ser morta pelo regime nazista, lidera as vendas.

Olga, publicado em 1985, tornou-se filme de Jayme Monjardim em 2004.

Agora, a tarefa é escrever a biografia do ex-presidente Lula, em três volumes. O primeiro, a ser lançado ainda este ano.

Lula queria que a biografia terminasse no dia em que passou a faixa a Dilma Rousseff, em 2010.

Fernando não concordou, visto que testemunhou de perto a fase mais turbulenta da trajetória do ex-presidente, inclusive a prisão em Curitiba.

Ele “reclama” que o biografado fica entregando histórias suculentas que deveriam ser contadas no livro. Numa entrevista ao Der Spiegel, por exemplo, Lula contou o causo do início de sua trajetória política.

O ex-presidente recortava fotos aleatórias de pessoas em revistas, pregava numa parede e ensaiava discursos à multidão de papel.

Viomundo não pretende dar spoiler na biografia. Paramos por aqui.

O escritor trabalha o dia todo no livro, à base de energéticos e charutos cubanos. Presumivelmente cubanos.

Aliás, na biografia de Lula ele vai contar como Fidel Castro incentivou o líder sindical a entrar na política.

Fernando Morais ainda encontra  tempo para manter o corajoso Nocaute, um “aparelho” de resistência nas redes.

As biografias de Antonio Carlos Magalhães e José Dirceu ficaram para depois.

Dirceu doou a Fernando seu arquivo pessoal, com preciosos documentos históricos que deverão ser abrigados na Casa de Mariana, uma casa de cultura que o escritor está organizando em sua cidade natal.

Fernando foi deputado estadual do chamado MDB autêntico, de 1979 a 1987. Também foi secretário da Cultura e da Educação do Estado de São Paulo.

É dele o projeto de lei para instituir, já em 1985, o mês de Consciência Negra em São Paulo.

Fernando entrou na política instigado por Ulysses Guimarães, um dos principais opositores da ditadura militar (1964-1985).

Ao receber o Viomundo para uma entrevista, relembra que quando candidato a deputado teve votos espalhados por todo o estado.

Foram 49.607 votos em 1978, quando Paulo Maluf (como José Maria Marin de vice) foi indicado para governar São Paulo pela ditadura militar, por via indireta.

Foi resultado do “pacote de Abril” do ditador Ernesto Geisel. Ele tentava adiar o fim do regime pelo voto, ou ao menos controlar o processo de transição.

Naquele ano, o MDB elegeu Franco Montoro e Fernando Henrique Cardoso como senadores por São Paulo.

Em 1982, Fernando Morais foi reeleito deputado estadual com 52.659 votos. O MDB, já como PMDB, emplacou Franco Montoro como governador paulista.

Montoro, naquela eleição, teve 49% dos votos. O então líder sindical Lula, com Hélio Bicudo de vice, obteve pouco mais de 10%. Era o surgimento eleitoral do Partido dos Trabalhadores.

Fernando relembra que em suas campanhas teve muitos votos em Bauru.

A cidade, que teve um forte sindicato dos ferroviários, já foi muito progressista.

Em 2018, Jair Bolsonaro teve 72,9% dos votos em Bauru no segundo turno, contra 27% de Fernando Haddad.

Como enfrentar esta guinada à direita no quadro político brasileiro?

Aqui, sai de campo o escritor e entra o político experiente.

Num momento de intenso debate na esquerda sobre os caminhos a seguir, Fernando, que tem interlocução com muita gente, de vários partidos (ele desfiliou-se do MDB), acredita que a esquerda depende de uma aliança para enfrentar politicamente a extrema-direita.

Porém, uma frente que não tente se livrar de Bolsonaro endossando a política econômica de Bolsonaro.

Luciano Huck, portanto, não caberia. Como bom mineiro, Fernando Morais sugere isso nas entrelinhas. Ao lado de Aécio Neves, Huck militou pelo impeachment de Dilma Rousseff.

Veja o vídeo acima para ouvir a opinião de Fernando Morais sobre a frente de esquerda.

Abaixo, uma transcrição:

“Se a gente olhar pra trás e lembrar do fim da ditadura militar, a gente vai ver que teve um movimento que não foi decisivo, mas que foi muito importante para a derrubada da ditadura, que foi um frentão que tinha desde gente que veio da luta armada, marxistas de diversas tendências, trotskistas de três orientações diferentes, até empresários como Cláudio Bardella e José Mindlin.

Tem dois casos que são muito exemplares. Em primeiro, aquele que em 64 perseguia comunistas e que virou o Menestrel das Alagoas, o saudoso Teotônio Vilela, que vinha a São Paulo todo fim de semana pra visitar presos políticos na cela.

O outro, Severo Gomes, que era um dos donos de uma tremenda indústria de São Paulo, foi ministro do Geisel, da Agricultura e da Indústria e Comércio, foi um dos esteios da frente.

Então, frente não pode ser só com gente que pensa igual a mim, porque se não eu fico sozinho. Agora, é preciso que a frente tenha limites, você não poderia aceitar na frente dos anos 70, começo dos anos 80, o delegado torturador Sergio Fleury. 

Então, hoje, eu acho que a frente é muito ampla. Eu vejo esse pessoal falar se o Luciano Huck entra ou não. Precisa tomar muito cuidado, porque as pessoas querem se ver livres do Bolsonaro, mas a gente não pode só tirar o Bolsonaro e manter as políticas do Bolsonaro, não adianta tirar o Bolsonaro, substituir o Bolsonaro na eleição, mas a política do Paulo Guedes continuar.

Então, não pode caber na sua frente quem é a favor da entrega da Petrobras, quem é a favor da venda do Banco do Brasil, quem é a favor da reforma da Previdência que vai sacanear os trabalhadores, não pode estar conosco quem ataca direitos dos trabalhadores e eu sou nisso muito radical.

As pessoas dizem que eu estou virando um velho carbonário, incendiário, mas na realidade eu acho o seguinte: quem contribuiu para o golpe, para a derrubada da Dilma Rousseff — que não foi impeachment, foi golpe — na minha frente não vai estar.

No frentão do qual eu vou fazer parte não podem estar, as pessoas são responsáveis por isso [o golpe de 2016]. Ah, mas tem os arrependidos. Faz um purgatório para os arrependidos. Você pode fazer um chiqueirinho para os arrependidos, como eles fazem para colocar a imprensa. Agora, sem uma frente, acho muito difícil enfrentar a situação que estamos enfrentando no Brasil”.

Fonte: Viomundo