Presidente revogou concessão de medalha da Ordem do Mérito Científico a dois cientistas da Fiocruz. Um foi o primeiro a demonstrar a ineficácia da cloroquina. E a outra, consultora da OMS, é expoente na pesquisa contra o HIV/Aids
O presidente Jair Bolsonaro revogou nesta sexta-feira (5) a concessão de medalhas da Ordem do Mérito Científico à médica amazonense Adele Schwartz Benzaken, diretora do Instituto Leônidas & Maria Deane da Fiocruz Amazônia, e ao pesquisador Marcus Vinicius Guimarães Lacerda, da Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado, ligado ao governo do estado do Amazonas. A honraria homenageia pessoas que prestam grande serviço ao desenvolvimento da ciência brasileira.
No anúncio da revogação, Bolsonaro não deu nenhuma explicação sobre o porquê de ter voltado atrás nas condecorações. É muito provável, porém, que a assessoria do presidente não tenha checado os currículos dos até então homenageados. E quando o fez, constatou que os dois nomes não fazem parte do charlatanismo estimulada pelo governo.
Bolsonaro criticou estudo
Em março de 2020, início da pandemia de covid-19, Lacerda liderou um estudo clínico com mais de 70 profissionais, entre pesquisadores, estudantes de pós-graduação e colaboradores de instituições com prestígio em pesquisa, como Universidade de São Paulo(USP), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT/HVD) e Universidade do Estado do Amazonas (UEA).
Lacerda e colegas demonstraram que as doses de cloroquina normalmente usadas com sucesso em pacientes de malária e lúpus não funcionavam em pacientes com covid-19. E que, usando doses maiores, a cloroquina alterava o ritmo cardíaco, aumentando o risco de mortalidade.
Na época, o infectologista passou a ser ameaçado, tendo de andar com seguranças. E a pesquisa passou a ser criticada por Bolsonaro e seus seguidores.
A Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI) saiu em defesa do médico, que é um estudioso e expoente das pesquisas relacionadas a doenças infecciosas e parasitárias, entre elas doenças negligenciadas, como a malária. Em seu currículo estão mais de 250 artigos científicos publicados, inclusive em revistas de renome internacional, como a New England Journal of Medicine.
Saúde de homens trans
Diretora da Fiocruz Amazônia, Adele Benzaken é persona non grata do governo Bolsonaro desde o início do seu mandato. Em janeiro de 2019, ela foi demitida da direção do Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das IST, do HIV/Aids e das Hepatites Virais (DIAHV) do Ministério da Saúde, cargo que assumiu em junho de 2016.
O governo recém-empossado logo mostrou insatisfação com a gestão de um departamento preocupado com a saúde de toda a população, sem exceção. Inclusive com a saúde de homens trans, para os quais havia sido criada uma cartilha específica de orientação e promoção da saúde.
Na ocasião, o governo Bolsonaro chegou a dizer que se tratava de uma “saída de comum acordo”, após ordenar a retirada da cartilha do portal do ministério na internet.
Consultora da Organização Mundial da Saúde desde 2001, Adele foi condecorada com 21 prêmios e títulos por seu trabalho combate as doenças sexualmente transmissível, entre ele do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco). E participou de mais de 316 congressos, exposições e feiras sobre o tema.
Fonte: RBA