Era uma vez uma menina que amava livros, uma criança desbravadora de palavras e três professoras com superpoderes: o de se tornar uma simpática vovó contadora de histórias, o de preencher uma sala de aula com minutos de muitos mundos e o de transformar creches e escolas num universo mágico com caixas fantásticas, fantoches, dedoches e outras tantas coisas brincantes…
Essas personagens e todos os apaixonados por literatura para crianças têm nesta terça-feira, dia 18, um motivo especial para celebrar: hoje é o Dia Nacional do Livro Infantil. A Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (ALEMS) enaltece a data e reforça a importância da leitura, prática estimulada por leis aprovadas no Parlamento e por outras iniciativas, como a produção de série de livros digitais sobre direitos humanos, com histórias que têm o Pantanal como cenário.
O Dia Nacional do Livro Infantil foi instituído pela Lei Federal 10.402/2002 e faz referência à data de nascimento do escritor brasileiro Monteiro Lobato (1882-1948). O autor do “O Sítio do Pica-pau Amarelo” nasceu em Taubaté (SP) no dia 18 de abril de 1882. Desde criança gostava muito de livros e teria lido todas as publicações infantis da biblioteca de seu avô assim que foi alfabetizado.
(Foto: Arquivo pessoal)
Lobato tem algo em comum com Marielly Brandão Barros: o amor pelos livros. A menina, que fez 12 anos na semana passada (portanto, a data de seu aniversário é próxima à do famoso escritor), cria asas com um livro em mãos e voa pelas histórias. “Quando estou lendo um livro, sinto como se estivesse viajando no mundo da imaginação, no mundo da criatividade… É tipo como se eu entrasse em outro mundo, é uma experiência única”, descreve com brilho nos olhos, largo sorriso e muitos gestos.
Muito boa com as palavras, Marielly chegou a recomendar um livro, o “Diário de uma garota nada popular”. “Eu li o volume 1 cinco vezes. São 282 páginas. É um livro que retrata o bullying. Eu recomendo muito esse livro”, disse a comunicativa menina, que cursa o sexto ano do Ensino Fundamental na Escola Estadual Professora Élia França Cardoso, em Campo Grande.
O gosto de Marielly por livros ganha ingredientes especiais nas aulas da professora Edineia Mariano Campos. “No início de todas as aulas, nos dez ou 15 primeiros minutos, eu faço com eles a leitura deleite. É um tipo de leitura prazerosa”, conta. “Busco trazer livros bem dinâmicos, paradidáticos bem legais. Aí, a gente conversa sobre o livro, a motivação da história, os personagens… Isso os ajuda a imaginar a história. Peço para eles desenharem a parte que mais gostaram, a que mais os emocionou, e contarem para a sala. Em todas as aulas fazemos isso e eles já ficam esperando pela historinha”, disse a educadora, acrescentando que o atual livro do projeto é “A terra dos meninos pelados”, de Graciliano Ramos. Esse livro tem disponível para download.
“Uems para crianças”: Encontros brincantes com muitas contações de histórias
(Foto: Arquivo pessoal)
Não só na educação básica, mas também na superior, há iniciativas de incentivo ao prazer da leitura. É o caso do projeto “Uems para crianças”, desenvolvido pela doutora em Educação, Giana Amaral Yamin, no curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (Uems), de Dourados. “Em parceria com estudantes e egressas do curso, realizamos encontros brincantes semanais em escolas, creches e, aos finais de semana e período de férias, em espaços da comunidade”, informa a professora.
“No projeto, destacamos as experiências com a literatura. Por isso, os encontros brincantes são iniciados com leitura ou contação de história, com apoio de livros ou imagens ampliadas em slides. Também utilizamos recursos que despertam o interesse das turmas, desde as de bebês, como caixas de histórias, fantoches, dedoches, elementos da natureza, sonorização que representem personagens e sons de enredos”, detalhou a doutora.
O projeto explora inúmeras possibilidades literárias. “Selecionamos obras interativas, livros sonoros, histórias sem textos, livros que compartilham a arte de pintores e de músicos. Brincamos com palavras e os sons. Cantamos, recitamos parlendas, refletimos as possibilidades trazidas pelos clássicos e adaptações modernas”, acrescentou.
(Clique aqui e leia, na íntegra, informações da professora Giana Amaral sobre o projeto “Uems para crianças”).
Uma simpática vovó que ama contar histórias
(Foto: Arquivo pessoal)
E se alguém preferir que as historinhas sejam contadas por uma senhorinha simpática, é só dar um pulinho ali em Sidrolândia e procurar pela “Vovó Naná”. É a personagem criada pela professora Einy Ferraz Caldas Ferreira. “A diretora me chamou e disse que precisávamos incentivar nossos alunos na leitura. Então, criei a personagem Vovó Naná, uma velhinha muito simpática que adora contar histórias”, lembra a professora.
Ela buscou a vovó na sua infância e a encontrou em seus sonhos, em suas brincadeiras de criança. “A criação desta personagem foi a realização de um sonho, sonho de uma vovó que agora não é só minha. Eu que nasci no interior do estado de São Paulo, que morei numa rua cheia de crianças, com muitas brincadeiras, que passei a infância brincando… Depois entrei na escola e descobri que quando as palavras se juntam formam frases, que frases formam histórias e que histórias formam sonhos. Então, comecei a brincar de sonhar”, disse a professora, dando às palavras memória e poesia.
(Conheça mais sobre a professora Einy e sua personagem, a “Vovó Naná”, clicando aqui).
Crianças e adolescentes são os que mais leem no Brasil
Incentivos como esses ajudam a fazer das crianças e adolescentes os maiores leitores em um país que ainda lê pouco. Entre os brasileiros de cinco a dez anos, 71% são leitores, o que corresponde ao universo de 11,7 milhões de crianças. E entre os que têm de 11 a 13 anos, essa parcela é de 81% ou 6,5 milhões. Os dados são da quinta edição (a mais recente) da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, coordenada pelo Instituto Pró-livro e publicada em 2020. O estudo considera “leitor” quem leu algum livro, inteiro ou em parte, nos últimos três meses.
O número relativo de crianças e adolescentes leitores supera os de outras faixas etárias. A pesquisa mostra, ainda, que quanto mais o brasileiro avança em idade menos se dedica à leitura. Os percentuais são os seguintes: 67% de leitores entre os que têm de 14 a 17 anos, 59% (18 a 24), 55% (25 a 29), 53% (30 a 39), 45% (40 a 49), 38% (50 a 69) e 26% (70 anos acima).
Professora enfatiza importância da leitura e afirma que tecnologia pode ser uma aliada
(Foto: Arquivo pessoal)
Elevar a parcela de leitores é fundamental. Esse hábito, que deve se iniciar na infância, possibilita a construção de significados, aumenta o conhecimento, desenvolve o raciocínio e a criatividade, melhora a argumentação, entre outras vantagens elencadas pela doutora em Letras, Juliane Ferreira Vieira, professora na unidade de Cassilânida da Uems. “A leitura possibilita a interlocução com o texto, o autor e o mundo e, desse modo, oportuniza ao leitor construir significados, os quais farão parte de seu repertório de conhecimento de mundo”, explica. “Como atividade que envolve fatores neurológicos e linguísticos, as leitura desenvolve o raciocínio, aumenta a criatividade e o vocabulário, melhora a argumentação e a interpretação de texto, bem como exercita o cérebro e contribui para a concentração”, completa a doutora.
Nesse estímulo à leitura, a tecnologia pode ser uma importante alidada, segundo observa a professora. “É preciso dizer às crianças que a leitura de livros não exclui o uso das tecnologias. Ao contrário, é possível alinhar ambas as atividades. Exemplo disso são os bookstans, leitores que são fãs de livros e de autores que compartilham nas redes sociais, como Twitter e Instagram, o gosto pela leitura de livros diversos. Com isso, percebe-se que é possível gostar de ler em tempos de avanços das redes sociais e dos jogos, que também têm os seus lugares na vida de uma criança e adolescente, mas não podem ser as únicas atividades.”, nota a professora Juliane.
(Para ler, na íntegra, as respostas da Juliane Ferreira, clique aqui).
ALEMS valoriza a leitura com aprovações de leis e outras ações
(Foto: Wagner Guimarães)
Contribuir para que os sul-mato-grossenses leiam mais também está entre as preocupações da ALEMS. O Parlamento aprovou pelo menos quatro leis que visam estimular o hábito da leitura. Entre elas, está a Lei 3.486/2007, que cria o Dia da Literatura Sul-Mato-Grossense, comemorado em 6 de novembro. Na data, podem ser realizadas, em escolas e instituições culturais, peças teatrais, leituras dramáticas, audições públicas e outras manifestações literárias.
Os deputados também aprovaram a Lei 3.662/2009, que institui o “Dia da Leitura”, celebrado em 11 de agosto. Também há a Lei 3.954/2010, que cria a Política de Promoção da Leitura Literária nas Escolas Públicas de Mato Grosso do Sul. Entre outros objetivos, essa política visa “fornecer os espaços de leitura nas escolas, de um acervo de qualidade constantemente ampliado e atualizado, destacando a literatura regional”.
Além dessas normativas, a ALEMS aprovou a Lei 5.148/2017, que institui o Plano Estadual de Cultura de Mato Grosso do Sul. Essa lei busca, por exemplo, “promover o direito à memória por meio de bibliotecas, museus e arquivos”, além de incentivar a publicação de livros.
O estímulo ao hábito de leitura, como a discussão de outras questões relativas à Educação, tem lugar em outros espaços e ações da Casa de Leis. É o caso da Comissão Permanente de Educação, Cultura, Desporto, Ciência e Tecnologia, presidida pelo deputado Professor Rinaldo Modesto (Podemos). “Como educador, acredito no poder transformador da Educação. E a leitura é uma etapa crucial no aprendizado, pois estimula o raciocínio, o entendimento do vocabulário, aprimora a fala, a escrita. Além disso, a leitura desenvolve a criatividade, a imaginação, principalmente das crianças, ajudando desde cedo a formar seu entendimento sobre o mundo e seu senso crítico”, discorreu o parlamentar.
(Foto: Christiane Mesquita)
Outra importante ação da ALEMS de incentivo à leitura é a produção de livros digitais infantis que tratam sobre temas dos direitos humanos com personagens da fauna pantaneira. Já foram produzidos cinco livros (e, em alguns dias, será publicado o sexto), que abordam a violência contra a mulher, o racismo e violação dos direitos das crianças e dos idosos. Esses temas pesados são apresentados com linguagem leve e com muitos desenhos referentes ao Pantanal.
E é por meio de um desses livros que a pequena Anne Mesquita de Almeida, de 6 anos, aventura-se no universo das letras. Ela está aprendendo a ler e aprendendo tantas outras coisas a partir das suas leituras. E tudo de uma forma prazerosa.
Com uma impressão do livro “Iguana calada: uma história de superação e liberdade” em mãos, Anne silaba um trechinho, equilibrando-se em seus primeiros passos numa nova linguagem. Com os olhos atentos a cada letra, que se junta com outra, outra e outra… e se reúnem em sílabas, que constróem palavras, que se ligam num colar de sentidos, Anne descobre o mundo, um novo mundo, o literário… Era uma vez uma desbravadora de palavras, que lançava no chão da esperança sementes de curiosidade e desejo de saber e, com outros tantos semeadores, ajudava a brotar, no amanhã, histórias de um mundo melhor.
Serviço
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