A falta de água continua em diversos pontos das aldeias Jaguapiru e Bororó, localizadas na Reserva Indígena de Dourados. Nesses locais residem aproximadamente 15 mil pessoas que enfrentam o problema há anos. Agora, o fato é agravado pela pandemia do novo coronavírus, principalmente diante das recomendações de higienização feitas pelos órgãos de saúde pública.
Mesmo com a situação, o Dsei (Distrito Especial Sanitário Indígena) de Mato Grosso do Sul, órgão vinculado à Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena), garante que o fato será resolvido em breve e, apesar das torneiras praticamente secas, nada impede a prevenção e combate da doença que já matou duas pessoas no Estado e 800 no país, segundo dados divulgados na quarta-feira (8/4) pelo Ministério da Saúde.
Conforme Mara Beatriz Grotta, chefe do serviço de Edificações e Saneamento Ambiental Indígena, não há casos suspeitos ou confirmados de coronavírus relacionados aos moradores dessas duas localidades.
“Não falta água para a higienização. Existem unidades de saúde nas aldeias que estão sempre em contato com indígenas, os conscientizando e orientando com relação ao vírus. Eles fazem o trabalho de casa em casa, explicando para se evitar aglomeração e outras medidas”, disse ao Dourados News.
Em relação ao problema enfrentado pelas comunidades há anos, Mara garante que obras são realizadas na região para acabar com a escassez.
Na Bororó são cinco poços de captação. Desses, segundo a Sesai, três deles jogam água diretamente na rede de distribuição, fazendo com que ocorra perda de pressão e, consequentemente, impede o abastecimento na parte alta da aldeia.
“O sistema de abastecimento da Aldeia Bororó foi implantado pela Funasa, na década de 1990. Com o passar dos anos, sofreu ampliações desordenadas devido ao crescimento populacional acelerado, o que deixou a distribuição subdimensionada, provocando perda de carga muito elevada e consequente pressão baixa e ou insuficiência”, disse a chefe do serviço de edificações, prevendo para junho a solução da situação.
Já a região da Jaguapiru, onde a falta de água é maior, o processo de licitação foi concluído e a Secretaria aguarda a liberação dos recursos por Brasília (DF) ainda para o final de abril.
No início da tarde de ontem (8/4), lideranças locais entraram em contato com o Dourados News para relatar, mais uma vez, a insuficiência de abastecimento às famílias residentes na região.
O fato, segundo os indígenas, ocorre desde a segunda-feira.
Riscos
O problema de abastecimento na Reserva Indígena de Dourados dura, pelo menos, seis anos. Em 2014, o Dourados News mostrou que indígenas caminhavam por horas sob sol escaldante para poder encher latas com água em açudes da região.
Na parte alta, algumas famílias deixavam as torneiras abertas ao longo do dia para, aos poucos, realizar a captação.
Com a chegada do novo coronavírus e os cuidados com a higiene pessoal como uma das formas de prevenção, abriu-se a preocupação maior nessa região, onde estão aproximadamente 15 mil indígenas.
Em entrevista ao Dourados News no dia 24 de março, a médica infectologista do Hospital Universitário da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados), Andyane Freitas Tetila, citou outros fatores que a ausência de água pode causar aos moradores das aldeias.
“Além de não poder fazer a higienização como é recomendado, eles não se hidratarão corretamente e muito menos irão preparar os alimentos com higiene. Isso pode prejudicar o sistema imunológico, deixando-os a mercê de todos os tipos de doenças, sobretudo do coronavírus, nesse momento”, explicou.
Fonte: Dourados News